Nos últimos anos, tem sido muito comum que os políticos mais reacionários da extrema direita se apresentem em público como se fossem verdadeiros outsiders (ou seja, elementos provenientes de fora da política tradicional). Este fenômeno ganhou muita força a partir do final do século passado com a ascensão do magnata midiático italiano Silvio Berlusconi.
Aqui no Brasil, mais ou menos no mesmo período, tivemos nossa própria versão com o lançamento do oligarca alagoano Fernando Collor para disputar a presidência da nação.
E, evidentemente, o exemplo mais cristalino em nosso país se efetivou com a unificação de todas as forças do grande capital em torno da candidatura do ex-militar nazi-fascista Jair Bolsonaro.
Todos esses nomes ganharam musculatura política com a propagação de suas imagens como sendo fortemente contrários a toda a podridão política imperante em nossas sociedades. Isto, apesar de eles estarem umbilicalmente ligados aos interesses dos grupos econômicos que sempre impulsaram e se beneficiaram dos sistemas políticos de exclusão das maiorias para favorecimento dos grandes capitalistas.
Uma vez mais, agora na Argentina, o processo volta a ser empregado. E, com base nisso, o ultra-reacionário Javier Milei veio à tona para garantir que nenhum avanço social pudesse ser consolidado de modo a garantir que os privilégios das eternas oligarquias argentinas e seus mentores do exterior não sofressem nenhum abalo.
Porém, para alcançar os votos necessários para ser eleito, não foi com base na defesa aberta dos interesses imperialistas-oligarcas que Javier Milei se apresentou em campanha. Nada disso! Para o grande público, ele se mostrou como um feroz inimigo do sistema, um verdadeiro “outsider” em política, aquele que queria pôr fim a tudo o que estava consolidado, o homem do “Que se vayan todos”.
Na verdade, como sabemos dos casos Berlusconi, Collor de Mello e Bolsonaro, o que se busca em todas essas situações é “que se preservem todos os privilégios dos eternos apaniguados”. Se para tal for necessário se dizer um inimigo visceral desse mesmo sistema que se está procurando manter, aí estão as figuras dos tais “outsiders” para desempenhar este papel. No fundo, eles não passam de verdadeiros “insiders”, ou seja, os politiqueiros de sempre, mas com nova embalagem.
Neste vídeo do link (https://youtu.be/CQLsM_TH5mU) temos um resumo do significado da eleição de Javier Milei na Argentina; É importante reflitir a respeito.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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