Por Mauro Donato.
Foi divulgado na terça-feira, dia 7, o laudo do exame necroscópico referente à morte do menino João Victor Souza de Carvalho, ocorrida nas mãos de um segurança e de um gerente de uma unidade da rede Habib’s.
Segundo o laudo, o máximo que se pode afirmar é isso: morreu nas mãos dos funcionários da lanchonete, mas as agressões sofridas pelo garoto não foram o fator determinante.
João Victor teve parada cardiorrespiratória após fazer uso de lança-perfume (no sangue foram encontrados tricloroetileno e clorofórmio – fórmula do lança-perfume – e também traços de cocaína).
No mesmo dia, foi também divulgado o laudo da causa mortis do cantor George Michael. Ontem, dia 7 de março. George Michael morreu na noite de natal.
Para ficar no meio artístico, o laudo que atestou que a cantora Cassia Eller havia morrido de infarto levou dois meses para ficar pronto (saiu no dia 31 de janeiro de 2002 enquanto Cássia morreu no dia 29 de novembro do ano anterior). O laudo sobre a morte de João Victor saiu em uma semana?
Achar estranho não ofende, certo?
E o que dizer quando se toma conhecimento que o laudo foi assinado por um médico que é a favor da redução da maioridade penal, simpatiza com Jair Bolsonaro e adora soltar piadas de cunho homofóbico? Seu nome é Danilo Vendrame Vivas.
Por certo que não se pode duvidar da competência profissional do Dr Vivas mediante sua orientação política ou pela rapidez na emissão do laudo. Mas o caso do menino João Victor estava assim tão simples de decifrar? Um menino de 13 anos morreu segundos após receber um violento soco na cabeça e isso nada teve de influência?
“O laudo do Instituto Médico Legal é apenas uma das provas. Precisa ser analisado em conjunto com outras provas, como os depoimentos de testemunhas, sendo que pelo menos duas delas até o momento relataram na Delegacia a ocorrência de agressões contra o adolescente”, declarou Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos que que acompanha o caso também como advogado a família.
Ele se referia ao motorista de ônibus que viu tudo de perto e prestou depoimento confirmando tudo o que a testemunha Silvia Helena Croti (catadora de material reciclável que foi descartada preconceituosamente pelos PMs) havia relatado. O segurança da lanchonete deu um soco na cabeça do menino que apagou e nunca mais voltou à vida. E a culpa é única e exclusiva do lança-perfume?
Como desgraça de pobre é mote para piada em boca de boçal, no mesmo dia da divulgação do laudo do Dr Vivas, um assessor de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo resolveu postar uma imbecilidade nas redes sociais.
“Vou comer 50 esfihas. Só pra contrariar. E um beirute”, disse Adriano Kirche Moneta, funcionário da CDN, empresa de comunicação responsável pelas polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo, segundo a Revista Forum.
A SSP preferiu sair pela tangente declarando que o assessor ‘não responde pela Comunicação do órgão e apenas emitiu uma opinião pessoal’.
Bom, se emitir opinião pessoal ainda for permitido, eu acho que o Dr Vivas deveria se aprofundar um pouco mais na questão do uso de drogas do menino João Victor. Há depoimentos que dão conta que ele consumia esfihas do Habib’s com frequência. Não foram encontrados traços de esfiha no sangue do menino? Eu acho que deve ser mais letal que crack ou krokodil.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.