O estouro da boiada. Por Sebastião Costa

A mensagem da última eleição parece indicar que a maioria dos brasileiros, de barriga cheia ou vazia, estão mais interessados em seguir o lema fascista - Deus, Pátria, Família.

Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo.

Por Sebastião Costa.

Lá pelos anos 30, Plínio Salgado retornou de uma visita à Itália encantado com os preceitos do fascismo. Em pouco tempo conseguiu criar mais de quatro mil células de seu partido – ALIANÇA INTEGRALISTA BRASILEIRA espalhadas pelo Brasil afora.

De quebra, o nazismo em alta se instalando em 18 Estados brasileiros. A Segunda Guerra impondo derrota estupenda ao nazifascismo e o gado recolheu-se.

Mas aí, o mundo deu algumas voltas e lá em 2016 o ultraconservadorismo nazifascista ressurge nos EEUU montado na figura histriônica de Trump. E focos renitentes de governos fascistoides se consolidando em países do leste e ocidente europeu.

No Brasil, o extremismo desenfreado do Capitão começou a abrir as porteiras do curral com o auxílio luxuoso da mídia direita volver alimentando o antipetismo; a religiosidade conservadora do evangelismo invadindo periferias e outra praças; o catolicismo se desgarrando das lições cristãs da Teologia da Libertação e o lema fascista DEUS, PÁTRIA E FAMÍLA atraindo evangélicos e católicos que se acreditam cristãos.

Fale-se também da competência da direita sem cabresto e sem pudor invadindo redes sociais com verdades distorcidas e mentiras ostensivas.

E foi desse caldo de cultura que se extraiu vitórias importantes do conservadorismo, com o avanço sem precedentes dos partidos que transitam do centro à extrema direita – PSD, MDB, PP, PL( o partido com maior crescimento).

O PT nasceu na maternidade do sindicalismo, assistido pelos ‘obstetras’ da igreja progressista e da intelectualidade. Nasceu com cara e coração da esquerda puro-sangue.
Conforme foi se chegando ao poder, foi se amoldando às regras e engrenagens do poder real, manuseado pelo fervor monetário e a competência indiscutível dos inquilinos da Casa Grande.

E foi seguindo por essa rota que as primeiras gestões petistas foram perdendo a pureza ideológica, para caminhar com desenvoltura pelas trilhas da centro-esquerda.

Ocorre que o Congresso mais conservador da história, conectado com os mugidos das urnas municipais, conforme expectativas dos entendidos, deve estimular a outrora esquerda puro-sangue passear no calçadão do Centro ideológico.

No ocaso da gestão bolsonarista 33 milhões de brasileiros iam dormir de barriga vazia.
Em discurso na ONU a sensibilidade social de Lula fala em “acabar com a fome no Brasil como fizemos em 2014”.

A mensagem da última eleição parece indicar que a maioria dos brasileiros, de barriga cheia ou vazia, estão mais interessados em seguir o lema fascista – Deus, Pátria, Família.

Enquanto isso, cinco bilionários seguem botando no bolso o equivalente a renda dos 100 milhões de brasileiros que habitam os rincões e grotões de nossa Pátria Mãe Gentil.

Na foto: Sebastião Costa

Sebastião Costa é  médico pneumologista e escreve no Portal Desacato.

1 COMENTÁRIO

  1. Ao ler o texto, senti que ele tenta construir uma análise histórica e política, mas cai em algumas simplificações que acabam comprometendo o argumento. Quando o autor liga diretamente o integralismo dos anos 30 ao conservadorismo contemporâneo, me parece que ele ignora nuances importantes. O integralismo, liderado por Plínio Salgado, era fortemente inspirado nos ideais fascistas de Mussolini e tinha uma organização paramilitar e autoritária, com símbolos e rituais próprios. Apesar de haver hoje movimentos que flertam com o autoritarismo, o contexto e as bases ideológicas são distintos. Ligar tudo isso automaticamente ao “fascismo” ou ao “nazismo” pode ser uma simplificação que ignora a complexidade das diferenças entre o conservadorismo atual e o fascismo histórico.

    Outro ponto que me incomoda é o tom maniqueísta. O texto coloca a direita e o conservadorismo como se fossem uma massa homogênea de ideias autoritárias e intolerantes, mas não é tão simples. Historicamente, o conservadorismo reúne desde liberais defensores da economia de mercado até setores que, de fato, flertam com o autoritarismo. Nos anos 60, por exemplo, a ditadura militar no Brasil tinha apoio de setores conservadores, mas ela coexistia com uma oposição que incluía desde liberais até setores da esquerda revolucionária. Reduzir toda a direita de hoje ao fascismo ou ao autoritarismo obscurece essas distinções e torna a análise superficial.

    A parte sobre o PT também me parece idealizada. O texto fala de uma “perda de pureza ideológica” quando o partido chegou ao poder, mas ignora que qualquer partido, ao se tornar governo, precisa fazer concessões e alianças. Durante o período em que o PT esteve no poder, principalmente na presidência de Lula, ele formou alianças com setores centristas e com o empresariado, como nos governos de coalizão que incluíam partidos do centro e até da direita, como o PMDB. Chamar isso de “diluição” dos ideais fundadores ignora que política é o terreno do possível, onde, historicamente, muitos governos de esquerda já precisaram adotar posturas pragmáticas para realizar parte de suas agendas.

    Por fim, ao afirmar que a maioria dos brasileiros prefere o lema “Deus, Pátria, Família”, sinto que faltou entender melhor os fatores que levam a essa identificação. Durante a ditadura militar, slogans como esse tinham apelo popular, mas num contexto de Guerra Fria e enfrentamento ao comunismo. Hoje, o cenário é outro, e o avanço desse discurso reflete mais uma reação às rápidas mudanças sociais e culturais, como as pautas de gênero e diversidade. A crítica ao conservadorismo acaba perdendo a profundidade ao ignorar essas razões. Em vez de apenas criticar o fenômeno, o texto poderia buscar entender suas raízes sociais, culturais e históricas para oferecer uma visão mais rica e menos polarizada.

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