Em um comunicado, a academia diz que a decisão foi tomada por causa do estado atual “reduzido” da Academia e da “perda de confiança pública” na casa. Diz ainda que precisa rever seus estatutos e práticas e questões de conflito de interesses.
No centro da decisão está um escândalo sexual que começou a vir à tona há seis meses, quando surgiram denúncias de agressão sexual, feitas por 18 mulheres, contra um fotógrafo francês, Jean-Claude Arnault, que dirige um projeto financiado pela Academia Sueca e era um dos homens mais influentes da cena cultural de Estocolmo.
Entre as autoras das denúncias estão integrantes da academia (o equivalente sueco à Academia Brasileira de Letras) e mulheres de integrantes. Arnault é casado com a poeta e escritora Katarina Frostenson, também da Academia Sueca.
+ Corrupção e assédio abalam academia que concede Nobel de Literatura
Várias das supostas vítimas disseram que foram vítimas de agressão sexual em instalações da própria Academia.
Seus integrantes votaram contra a expulsão de Frostenson; isso, juntamente com acusações de conflito de interesse, acabou dividindo o comitê que escolhe o Nobel de Literatura.
A divisão fez com que sete membros renunciassem – entre eles, Frostenson e a secretária permanente do órgão, Sara Danius.
A Academia ficou com apenas 11 membros; o estatuto exige um quórum de 12 membros para aprovar novos integrantes.
Tecnicamente, os membros da academia ocupam posições vitalícias e não podem renunciar, mas podem optar por não participar de suas reuniões e decisões. O patrono da Academia, o rei Carlos 16 Gustavo da Suécia, já disse que pretende mudar as regras para permitir a renúncia formal.
Mesmo com número reduzido, a decisão de adiar a entrega do prêmio não foi unânime. Alguns membros defendiam manter a tradição e outros argumentavam que o momento não é propício para conceder prêmios.
Acredita-se que a campanha #MeToo (#eutambpem), iniciada após o escândalo sexual envolvendo o produtor de Hollywood Harvey Weinstein e que que conseguiu unir milhares de mulheres assediadas, teve um peso na votação final.
Em outro comunicado divulgado nesta sexta-feira, a Fundação Nobel informou que é “séria” a crise na Academia Sueca, que concede a premiação. Esclareceu ainda que a decisão de adiar o anúncio foi tomada para manter a reputação do prêmio, que já foi distribuído 110 vezes a 114 pessoas entre 1901 e 2017. E disse também que as outras categorias não serão afetadas.
O que acontece agora?
O ganhador de 2018 será anunciado juntamente com o de 2019, no ano que vem. Não será a primeira vez que isso acontece. Nenhum prêmio foi anunciado em 1936, mas o vencedor daquele ano foi concedido em 1937 ao dramaturgo americano Eugene O’Neill, autor de Longa Jornada Noite Adentro. E o ganhador de 1937 foi o francês Roger Martin du Gard.
Até hoje, o Nobel de Literatura não foi entregue em sete ocasiões, sem que tivessem sido divulgadas as razões. Seis delas em anos das Guerras Mundiais (1914, 1918, 1940-1943) e o de 1935.
O Prêmio Nobel
- O cientista e inventor sueco Alfred Nobel criou o prêmio em 1885.
- Inicialmente, eram cinco as áreas agraciadas: Química, Literatura, Paz, Física e Medicina.
- O Nobel de Economia foi criado em 1968, em homenagem a Alfred Nobel.
- O Nobel da Paz é o único escolhido por um comitê norueguês; os demais são selecionados por pessoas ligadas à Academia Sueca.
- Os vencedores do Nobel de Literatura ganham uma medalha de ouro, um diploma e dinheiro. Eles também são convidados a dar uma palestra, seguida por um baquete e a cerimônia de premiação.
- Em 2017, o Nobel de Literatura foi entregue ao autor britânico-japonês Kazuo Ishiguro e, em 2016, ao cantor e compositor americano Bob Dylan.