O enfraquecimento dos partidos em uma sociedade fragmentada, por Assis Ribeiro

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Não haverá partidos, teremos apenas nomes de candidatos, e ganhará, tanto quanto aconteceu com Collor, Berlusconi ou mesmo Trump, quem estiver mais deslocado da ideia de partido, do conceito tradicional de partido político.

Essa é a tendência mundial em eleições onde a grande mídia conseguiu desmoralizar a política e na própria fragmentação da sociedade, profundamente estuda por Bauman.

“De acordo com Bauman, a sociedade tardo-moderna decreta a afirmação do indivíduo, mas do indivíduo de jure, não do indivíduo de fato. Sozinho, vulnerável, sem um espaço público a que se referir, sem uma dimensão política que apenas uma ressurreição da “ágora” pode garantir, o indivíduo contemporâneo não se eleva para o papel de cidadão, mas um isolado”.

É o mundo líquido, da sociedade fragmentada, difusa, sem referenciais, com suas relações efêmeras e passageiras. Do imediatismo frígido e frágil.

É dessa forma que está sendo observado um total esfarelamento de qualquer função relacionada ao conceito de coletivo.

O resultado das últimas eleições no Brasil e na vitória de Trump nos EUA foram emblemáticas, apontando a agonização de todos os partidos políticos e mesmo da política.

A fragmentação dos resultados no Brasil e a desordem da eleição de Trump demonstraram que os eleitores estão se afastando do conceito usual do que seja a política.

Não interessa mais a plataforma partidária, a coletividade de propostas.

No Brasil, os últimos candidatos eleitos muitos sem nunca terem participado de disputa partidária, e representando vários partidos, sem bandeiras, sem propostas e com discurso agressivo, populista e descompromissado com a política no sentido essencial do conceito.

O que ocorreu não demonstra a vitória de uma agremiação. Ao contrário, o que se observou foi a absoluta derrota dos três partidos de maior dimensão; o PMDB, o PT e o PSDB.

No caso de São Paulo o resultado pode ter sido “uma vitória de Pirro”.

O PSDB apenas retomou um dos seus feudos. E o fez abrindo cicatrizes.

A vitória de Alckmin com a eleição de João Dórea é, de certa forma, uma derrota do PSDB. O que se observou foi o aumento do racha interno e a total dissolução de qualquer princípio partidário e programático.

No PMDB a constatação plena em qualquer estudo ou observação de que se trata de um amontoado de representantes dos seus interesses próprios, sem compromissos partidários e éticos.

No PT – o último partido – a total desmoralização promovida pela mídia em conluio com a operação “lava-jato”.

É a morte da política no sentido partidário- representativo.

Zygmunt Bauman disse, citando Gramsci: “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”.

Os partidos políticos perderam o elo com as populações e o conceito da representatividade ruiu.

Neste sentido, a união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando a disputa do poder político, está sendo substituída pelos “clubes eleitorais”, sem ideologias, sem princípios e sem estrutura de tipo piramidal com a base sólida e orientadora dos planos e projetos políticos, econômicos e sociais, siglas sem identidade.

Se os principais partidos políticos serviram como instrumento para pessoas e grupos entrarem no sistema político para expor suas reivindicações, necessidades e sonhos, aglutinadores das decisões políticas, nos dias atuais é visível o esvaziamento da importância dessa base formadora de opiniões e decisões, ficando a nítida sensação de que os partidos não mais representam essa função.

É assustadora a situação da representatividade, mas a descrença da população tem mais a ver com as siglas partidárias do que com o sistema político como um todo. Na atual conjuntura, os partidos olham mais para o seu projeto de poder do que para um projeto de sociedade, o resultado foi o fiasco dos partidos políticos nas últimas eleições.

Situação preocupante.


Fonte: GGN

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