Por Bruna Weber Botta.
Apesar de toda a publicidade capitalista em torno do sonho, que traz conotação de consumo, essa palavra está diretamente relacionada ao descansar noturno, hora em que você relaxa e vive situações maravilhosas, aterrorizantes ou agoniantes. Os sonhos pertencem exclusivamente a seu sonhador e por isso é um universo infinito de possibilidades.
Segundo o neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro, em seu livro O Oráculo da Noite – a história e a ciência do sonho – foi através da vivência noturna que nossa espécie conseguiu sobreviver e desenvolver-se. Segundo ele e outros autores que trataram do tema antes dele, provavelmente foi sonhando que nossos primeiros ancestrais tiveram a capacidade de criar ferramentas para caça, agricultura, e solucionar todos os tipos de problemas e dificuldades que podemos imaginar. Também há diversos relatos na história sobre guerras que se iniciaram e se extinguiram, sonhos que definiram o rumo dos fotos. O sonho tem função de oráculo na história da humanidade, mas gradativamente o neoliberalismo nos afastou e segue nos afastando dessa nossa função natural de sobrevivência e resolução de problemas.
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Feita essa introdução, no comentário de hoje vou trazer algo que o autor passa muito rapidamente pelo tema, o sono do trabalhador, ou melhor, ele trata da precariedade do sono do trabalhador que atualmente se vê aterrorizado por insônias.
Isso me provocou a pensar mais sobre. Indo além, pergunto: como são os sonho de quem não tem qualidade, ou condições mínimas de dormir? É claro que essa pessoa por força fisiológica acaba adormecendo. E quando adormecem, com o que frequentemente essas pessoas sonham? Não vou ter uma resposta objetiva, mas há um padrão de sonho para cada sonhador e, portanto podemos imaginar como deve ser aterrorizante as noites de quem vive à margem da sociedade. Por outro lado, para essas mesmas pessoas, como esse momento de sonhar pode ser a glória para viver tudo aquilo que gostaria que fosse realidade quando acordado.
Os mais afortunados que conseguem ter condições materiais para uma boa noite de sono, dormir é algo tão natural, corriqueiro que a experiência de sonhar não é objeto de reflexão, infelizmente.
E entre esses afortunados, há os que têm condições de ter uma ótima noite de sono, mas não têm saúde para isso.
Sidarta traz valores em sua obra e nos diz que a indústria da saúde do sono tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares, e apesar de todo esse dinheiro investido, atualmente os dados das pesquisas é de que se aumenta cada vez mais a parcela da população que não consegue dormir.
Com isso temos um dilema qual está longe de ser resolvido: de um lado pessoas que são privadas de uma boa noite de sono por um sistema que saca até o direito de sonhar. Do outro lado, pessoas que têm condições de relaxamento noturno, mas que por forças que lhe atravessam, não conseguem dormir.
Um dos pontos de convergência entre esses dois grupos, e matéria fundamental desse comentário, é que os dois estão debaixo dos pés do mesmo opressor: o sistema econômico.
Se nós, potenciais sonhadores, perdemos a capacidade de sonhar, de contemplar essa “carta do inconsciente” como disse Freud, seguindo a lógica de nossos antepassados, agora estaríamos nós incumbidos a sonhar com as ferramentas e meios de, por exemplo, desenvolver e resolver os problemas atuais e criar caminhos para chegar ao socialismo e a emancipação sa classe trabalhadora.
Não se descobriu ainda a solução de como fazer as pessoas que não conseguem dormir – tendo condições básicas pra isso – voltarem a sonhar, terem a capacidade de contemplação em suas viagens no inconsciente.
As pessoas que fazem parte da elite seguem sendo pessoas e com certeza têm pesadelos! Essa é a mágica do oráculo da noite, quando todos nós adormecemos, não somos mais nós quem comandamos a imaginação, mas um inconsciente carregado de memórias e até mesmo de intuições proféticas que em certo grau desconsidera a condição financeira do sonhador.
Será que em alguma noite o terror noturno das elites que controlam através do dinheiro, ou da escassez dele, as nossas noites de sono e de sonho, será eles temem que a história da humanidade possa vir a mudar quando as pessoas tiverem boas condições de vida? Será que é esse um dos pesadelos do Elon Musk, ou será que ultimamente o terror noturno dele é o Alexandre de Moraes, ou será que é o Musk quem atormenta o ministro? Bom, isso pouco nos importa! Torço para que o Elon Musk e seus amigos tenham pesadelos terríveis! Assim como nesse caso torço para que os nossos ministros e políticos também tenham pesadelos que os angustiem e os obriguem a olhar para o povo brasileiro sob pena de não ter mais paz em suas experiências noturnas!
Em contra partida, pensar na noite dos miseráveis, esses sim merecem nosso tempo de reflexão, de estudo, de colaboração, militância e imaginação para dar fim nessa atrocidade que é a privação de uma boa noite de sono.
Não consigo imaginar como é estar na pele de quem passa a noite ao relento, mas já que o inconsciente é de cada sonhador, desejo que pelo menos ao adormecer essas pessoas experimente serem livres, e terem em um sonho bom a oportunidade de gozar de um teto e de mesa farta.
Aqueles que estão desabrigados, famintos, com frio, os desempregados, os que têm uma vida miserável, talvez, sejam esses que tenham mais ânsia de mudança e por isso mais imaginação do que nós, pequenos burgueses, para sonhar com as ferramentas e os caminhos necessários de uma virada na história e dar início à revolução do proletariado.
A intenção aqui não é nos culpar, pois o sentimento de culpa estilhaça ainda mais as já prejudicadas noites de sono, mas sim reforçar a nossa responsabilidade, nós somos os ancestrais dos que virão, e nós que temos nesse momento a oportunidade de comer e dormir bem, de frequentar universidades, ter acesso às mídias, as informações, nós que conseguimos estar inseridos em grupos políticos, então cabe a nós sermos irremediáveis sonhadores em busca de encontrar condições e soluções para garantir a grande massa o direito de uma noite de sono que seja digna.
Assista ao comentário da Bruna Weber Botta no vídeo abaixo
