O debate sobre os atuais indicadores no Brasil

Zé Alvaro 2

Por José Álvaro de Lima Cardoso*

     Atravessamos no Brasil atual um período difícil no que se refere à interpretação dos indicadores macro econômicos, com grande defasagem entre os indicadores objetivos e a sua percepção por parte da sociedade. Nunca se falou tão mal da economia do país, exatamente em um período em que os indicadores, possivelmente, sejam os melhores da história. O problema é grave porque, de alguma forma, a exacerbação do pessimismo entre os chamados agentes econômicos afeta as possibilidades de crescimento. Num contexto como este, consumidores e empresários tendem a adotar comportamento defensivo na hora de consumir ou investir. Boa parte do pessimismo entre famílias e empresários está diretamente relacionado com a cobertura de uma parte da mídia, extremamente negativa e que está sempre prevendo que “se neste momento não está acontecendo o pior, ele virá na semana que vem ou, no mais tardar, no mês que vem”.

     Independentemente daquilo que se pode chamar de “pessimismo induzido”, a inflação foi e continua sendo um problema para o país, visto que, apesar de estar sob controle, ela ainda é alta para os padrões internacionais e suga boa parte das energias nacionais. Ainda mais que, no Brasil, o seu principal antídoto tem sido a elevação das taxas de juros, fazendo com que, em alguns momentos, o remédio leve o paciente à quase morte. Como no Brasil não existe controle de preços (apenas regulação de alguns preços essenciais como comunicação, eletricidade, combustível e outros), que exercem grande influência na formação dos demais preços da economia, o Banco Central (BC) tenta controlar a inflação de forma indireta, através dos juros. Ao estabelecer a taxa de juros básica da economia o governo objetiva atuar sobre os preços via os chamados meios de transmissão da política monetária. Ao manobrar a taxa de juros o governo influencia o crédito, a taxa de câmbio, o valor dos ativos, visando acelerar ou esfriar a atividade econômica. Influenciando dessa forma, por exemplo, o nível de produção e emprego.

     Segundo interpretação de uma parte dos economistas, estamos crescendo pouco, com inflação relativamente alta, o que seria o pior dos mundos, no que se refere aos indicadores macroeconômicos. Mas, o fato concreto é que a inflação vem caindo nos últimos meses, o que esvazia parte dos próprios fundamentos imediatos das críticas. O IGP-M/FGV, por exemplo, cujos preços por atacado têm peso de 60% do indicador, vem apresentando deflação nos últimos três meses. No varejo os indicadores mostram também desaceleração de preços. O custo de vida no município de São Paulo, por exemplo, em junho, não apresentou variação em relação a maio, segundo cálculo do DIEESE. Alguns grupos de consumo, inclusive, como Alimentação (-0,27%) e Transporte (-0,27%) apresentaram queda de preços em relação ao mês anterior. Nos últimos meses o ICV-DIEESE caiu seguidamente: março (0,81%); abril (0,57%); maio (0,14%); junho (0%). O INPC-IBGE apresenta a mesma tendência: respectivamente, 0,82%, 0,78%, 0,60% e 0,26%.

      O problema do baixo crescimento, por sua vez, é preocupante.  Claro que não dá para aceitar o diagnóstico de que o país está em estagflação, pois este fenômeno não pode conviver com a taxa de desemprego mais baixa da história e ganhos reais nas negociações coletivas. Mas há indicadores muito preocupantes, que devem ser olhados com muita atenção pelos responsáveis pela política econômica. No acumulado no ano (janeiro a maio) a produção da indústria geral registrou queda de 1,6%, no desagregado da indústria de transformação, a queda no período é de -2,4%.

     Não há melhor indicação do nível de atividade que os próprios dados do PIB. A crise internacional é importante, mas não explica tudo. Em 2011, os chamados emergentes cresceram 6,4% e o Brasil, 2,7%. Em 2012, os emergentes 5,1% e o Brasil, 1%. Em 2013 os crescimentos foram, respectivamente, de 4,7% e o Brasil 2,5%. Para este ano, a projeção de crescimento dos emergentes é 4,6% e a do Brasil, pouco acima de 1%. No primeiro trimestre o PIB do Brasil cresceu, apenas 0,2% em relação anterior e 1,8% em um ano. O comércio varejista registrou alta de 0,5% em volume de vendas e 1% no faturamento nominal em relação ao mês anterior. Mas uma parte deste faturamento vaza para fora, em função da importação de industriais.

     O Copom já deveria ter baixado a taxa de juros na última reunião, no mês passado, mas preferiu mantê-la como uma das mais elevadas do mundo. O BC dispõe de muita informação relevante, mas a tendência é se ater exclusivamente aos grandes agregados econômicos, que de fato, estão meio embaralhados neste momento. PIB cresce pouco, mas ao tempo, a taxa de desemprego permanece historicamente baixa. O consumo do governo permanece elevado, mas emprego na indústria de máquinas e equipamentos cai.

 *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina (na foto).

Imagem tomada de: article.wn.com

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