Por Julia Saggioratto.
Seu corpo carrega cada passo da sua história,
ele carrega os traços do que fez você ser quem é hoje,
te diz, todos os dias, como você chegou até aqui,
como nós chegamos até aqui,
ele carrega quem somos,
o que e a quem amamos.
No toque dos dedos carregamos a textura
que nos dá prazer, que nos arrepia.
Na sola dos pés o desejo de andar descalço na terra,
de poder calçar os pés expostos.
Por cima dos ombros a leveza por estar viva
e a dor de carregar o peso de ser classe trabalhadora.
Nos lábios lembrança do beijo de carinho,
do café no fim de tarde,
um sopro de alívio,
um suspiro,
ansiedade.
Somos resultado do processo histórico,
do que nos fizeram passar,
do que fizeram a nossos corpos,
de como usam nossa força de trabalho
e enriquecem com nossos pés descalços,
nossos dedos moídos,
nossos ombros cansados,
nosso ar esvaído.
Somos também a força que carregamos
nos dedos capazes de criar arte e embalar a utopia,
nos pés que sentem a terra e semeiam nela a vida,
nos ombros fortalecidos na luta e na organização,
na voz que, silenciada, se recusa a calar.