Por Nilson César Fraga*
Realizamos, pelo Departamento de Geociências da UEL, onde sou coordenador do Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado – OCGC/UEL/UFPR e do Laboratório de Geografia, Território, Meio Ambiente e Conflito – GEOTMAC/UEL, mais um trabalho de campo de reconhecimento e análise dos sítios históricos na região da Guerra do Contestado, com alunos que atuam no GEOTMAC e no Observatório, além dos alunos do Programa de Pós-graduação em Geografia da UEL e convidados, entre os dias 19 e 22 de novembro de 2015, onde fizemos análises em sítios históricos em Irani (20/11), no sítio histórico da Serra da Boa Esparança e Perdizinha, em Lebon Régis (20/11), nas relíquias patrimoniais do Quilombo do Rocio do Pretos, cemitério caboclo, Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande e sítio da emboscada que vitimou o Capitão Matos Costa, na então vila de São João dos Podres e do Pocinho de São João Maria, em Matos Costa (21/11), na estação de trem e do sítio urbano da antiga sede da Cia. Lumber, em Calmon (21/11), no Museu do Contestado, em Caçador (21/11, com abraço ao Museu do Contestado) e no Vale da Morte (rio Santa Maria), vala comum dos 4 mil mortos, centro histórico da cidade e Praça do Contestado, em Timbó Grande (22/11).
Os estudantes e professores da UEL foram recebidos e tiveram apoio das prefeituras de Lebon Régis, Timbó Grande e Matos Costa, para que fosse possível chegar aos sítios históricos distantes das sedes municipais, além de cordial recepção com almoço caboclo e café da manhã caboclo, nesse que foi o 45º trabalho de pesquisas de campo na região do Contestado realizado por mim.
O ponto alto desse 45º trabalho de campo na região da Guerra do Contestado, ocorreu no dia 21 de novembro, às 17 horas, quando dezenas de pessoas se uniram em um ato de amor pela restauração do Museu do Contestado, na cidade de Caçador.
Fizemos um apelo à população para que participasse do evento denominado “Um abraço para salvar o Museu do Contestado”, lançado no Facebook, na comunidade Contestado, 100 anos em Guerra, visando sensibilizar população, os empresários e os políticos regionais para que tomem medidas urgentes com relação ao abandono em que o edifício se encontra. O chamado para o abraço simbólico ao museu obteve grande divulgação pelos jornais e blogues da região de Caçador.
O Jornal Diário do Rio do Peixe chamou a atenção sobre o abraço ao Museu na sua edição de 22 de novembro: “Durante a Semana do Contestado, aqui em Caçador, eu já havia comentado a situação do Museu. Eu visito há 15 anos com os meus alunos e nesses últimos anos percebi que o museu está relativamente abandonado na parte física. Então, eu chamei atenção sobre isso durante a minha palestra. Um mês depois, voltei aqui e a situação estava pior. Chegamos em um dia de muita chuva e a água corria pelas paredes do museu. Aí, eu fiz uma fotografia e relatei no Facebook o que está acontecendo. Voltando com os meus alunos, tive a ideia de criar o evento e dar um abraço simbólico no museu, pedindo que ela seja salvo”, explica Fraga. Para ele, um abraço é um ato de amor e isso é o que as pessoas devem ter pelo patrimônio e por sua história. “Esse é o principal cartão postal de Caçador e é o maior e mais importante Museu do Contestado de Santa Catarina, ou seja, aqui está a maior parte do conjunto material da guerra, do mundo caboclo, da estrada de ferro. Esse museu é o espírito do Contestado, a alma dessa região e de Caçador e ninguém pode matar a sua alma”, comenta.
Dentre os que participaram, estavam meus alunos da alunos e duas professoras da Universidade Estadual de Londrina (UEL), além de um professor da Universidade Federal de Rondônia, pessoas do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Além desses, no dia 06 de novembro, durante uma palestra que ministrei sobre a Guerra do Contestado na E. E. B. Manoel Henrique de Assis, no município de Penha, no litoral catarinense, mais de 300 alunos, professores, diretores, comunidades e representantes da Gered, promoveram um abraço simbólico para ajudar na sensibilização quanto ao estado de conservação do Museu do Contestado.
Esperamos que o abraço simbólico ao Museu tenha repercutido sobre os meios políticos caçadorenses e que, em breve, sejam iniciados os trabalhos de recuperação do espaço físico dele e que o seu rico acervo seja preservando e não corra mais risco de deterioração com as goteiras, infiltrações e outros efeitos deletérios sobre os objetos depositados no mesmo.
O Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado segue na luta pelo reconhecimento e preservação do patrimônio material e imaterial da região da Guerra do Contestado, exigindo tomada de medidas por parte dos poderes públicos, visando à salvaguarda desse inquestionável patrimônio catarinense e brasileiro, que vem sendo menosprezado ao longo de mais de um século.
Foto de capa: Imagem do abraço ao Museu do Contestado, realizado no dia 21 de novembro de 2015, às 17 horas, na cidade de Caçador, SC.
*Pesquisador do CNPq
Geógrafo – Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Mestre em Geografia
Coordenador do Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado – OCGC/UEL/UFPR
Coordenador do Laboratório de Geografia, Território, Meio Ambiente e Conflito – GEOTMAC/UEL
Cidadão Honorário por Matos Costa e Irani, Contestado, SC
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina – IHGSC
Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB/LDNA
Universidade Estadual de Londrina – DGEO-PROPGEO-UEL
Universidade Federal do Paraná – PPGGeo-UFPR