No último dia 15 de abril, manifestações em defesa dos direitos, com bloqueios de estradas, paralisações parciais de categorias, atos de rua expressivos, como o de São Paulo, constituíram um fato importante no país. Foi uma primeira resposta após a verdadeira provocação contra a classe trabalhadora que foi a aprovação do PL das terceirizações na Câmara dos Deputados.
A hipótese que este dia 15 de abril colocou é a possibilidade de ir além da inócua e hipócrita briga de facções que se instalou no país, com a constituição de uma alternativa de resistência nas ruas à onda de retrocessos e ataques a direitos.
Cada vez mais senhor de si na condução política do governo, o PMDB pilota a ofensiva conservadora no Congresso Nacional. O mercado financeiro pilota a política econômica, com os ajustes e cortes de direitos, e a presidenta paga o preço da sua rendição, isolada, embora totalmente alinhada com o ajuste neoliberal e também com as terceirizações.
Registre-se que é tamanho o significado dos ataques aos direitos que até mesmo movimentos sociais e sindicatos que sustentam o governo foram parte das manifestações do dia 15, que, entre outras pautas, questionava abertamente o ajuste do governo Dilma e sua covardia em relação ao PL 4330/04, o das terceirizações – um projeto bem ajustado aos sonhos do grande capital nestes tempos de desregulamentação de direitos e flexibilização da mão de obra.
Mas talvez a contradição mais escandalosa verificada nas manifestações do 15 de abril foi a atitude da grande mídia corporativa nacional e, especialmente, no estado de São Paulo, que ignorou e escondeu das suas manchetes, noticiários televisivos e dos jornais diários o fato de que 40 mil pessoas marcharam pelas grandes avenidas de São Paulo, com o slogan contra a direita, por mais direitos.
Não é fácil esconder uma manifestação deste porte, ainda mais em horário de rush na cidade e sob forte chuva. Mas esconderam. Foram 40 mil pessoas, que agregaram socialmente os trabalhadores sem teto, trabalhadores de sindicatos cutistas e de sindicatos ligados à Intersindical e à CSP Conlutas, diversas organizações de juventude partidárias e autonomistas, organizações de mulheres, LGBT, negros e negras. Não foi, portanto, uma manifestação pequena ou marginal.
O absurdo desta manipulação chegou a tanto que mesmo uma das únicas e breves referências feitas na noite do protesto, pelo canal Band News, se resumiu a reproduzir fotos do protesto. Ridículo. Se compararmos essa cobertura com o engajamento descarado, convocatório e acrítico às manifestações da direita, temos uma exata dimensão do “jornalismo” que faz esta mídia.
O problema surge quando alguns tiros saem pela culatra. Pois as manifestações do 12 de abril foram tão reacionárias que obrigaram a Rede Globo a fazer um tipo de editorial no programa Fantástico, no mesmo dia 12, para explicar que não estão ao lado dos que pedem intervenção militar – isto porque tal perfil se mostrou muito mais visível nesta rodada de protestos reacionários.
Mas não há editorial envergonhado que apague a memória. Pois, para quem já tentou esconder uma manifestação de 300 mil pessoas pelas Diretas Já em 25 de janeiro de 1984, não é exatamente uma novidade e nem uma tarefa tão árdua esconder 40 mil. Mas há limites que poderiam ser impostos neste ano em que se “comemoram” os 50 anos da Rede Globo (nascida das entranhas do golpe de 64).
Esta é uma das facetas mais deformadas da democracia no Brasil, ou melhor, a democracia cooptada e controlada pelo poder econômico. Os grandes monopólios dos meios de comunicação (que são concessões públicas!) são verdadeiros manipuladores da informação e divulgadores das campanhas ideológicas reacionárias e antipopulares; são uma das pernas do poder econômico e ideológico dos poderosos interesses da classe dominante e dos lobbies fundamentalistas de toda espécie. Defendem pautas regressivas (como fim da maioridade penal) sem que o básico de um jornalismo minimamente sério (dar espaço e condições iguais para a expressão de variadas posições) seja respeitado.
Tentar vender ao povo brasileiro a imagem de que o único movimento que está nas ruas é o que pede o impeachment de Dilma e a intervenção militar é uma manipulação inaceitável, com a Rede Globo à frente.
Não se pode falar em uma autêntica reforma política democrática ou de democratização do poder sem tocar nesse tumor que cresce aos nossos olhos, que é o monopólio dos grandes meios de comunicação.
É parte das reformas democráticas e verdadeiramente populares que o Brasil precisa: colocar na agenda, com ênfase cada vez maior, uma , com medidas tais como uma auditoria nas concessões de rádio e televisão, proibição da propriedade cruzada dos meios de comunicação, fim da outorga de concessões para políticos em exercício de mandato e abertura de maiores e mais visíveis espaços para a comunicação não comercial.
Se as concessões são públicas, é legítimo colocar em questão a criação de mecanismos de controle social dos meios de comunicação.
Fonte: Correio da Cidadania