O churrasco de Olivos e as sobras dos deputados. Por Gustavo Veiga.

São legisladores argentinos que ganharam um subsídio de 23.885 reais a partir de julho. Eles ganham quase quatorze vezes mais que uma aposentadoria mínima (com bônus incluído) que em agosto girava em torno de 1.708 reais. Nas eleições presidenciais comemoraram ter votado contra um parco aumento para os nossos avós. Javier Milei os recebeu como “heróis”.

Foto: Pixabay

Por Gustavo Veiga.

Esta é a história de um churrasco. O churrasco na casa presidencial de Olivos. Se o grande banquete apresenta um dilema moral, é quem o comeu e quem fica de fora de tudo. Os aposentados só veem um bife em fotos ou anúncios de açougues. Mas os 87 deputados premiados pelo presidente em encontro gastronômico podem comprar os cortes mais caros: lombo, peito e vísceras. O problema mais grave é que, desta vez, cravaram os dentes na carne em troca de arrancarem um punhado de notas aos nossos avôs e avós.

Não é de admirar. Não é a primeira vez que se organiza uma festinha com políticos na nossa cara. Mesmo em períodos de fome. A Sociedade Rural tem tradição no assunto. O Colóquio IDEA também. O Fórum Llao Llao de empresários que apoiam os saques terminou este ano com uma frase presidencial que ficará na memória. Milei disse: “Aquele que manda dinheiro pro exterior: é um herói”. Outros heróis, como os deputados do grande churrasco.  

Riem-se de nós como hienas, tal como o porta-voz Manuel Adorni nas suas cotidianas e surreais conferências de imprensa. Não importa se você pagou a carne com cartão de débito, crédito ou transferência. Nas suas contas bancárias o valor da refeição é apenas um troco, uma gorjeta.

Hoje, milhares de argentinos mais uma vez rasgam sacos de lixo em busca de qualquer coisa que possam colocar na boca. As entranhas de algum animal, os restos fedorentos de um restaurante, restos de comida em condições questionáveis, seja lá o que for. Há fome.

Outro problema básico do significado desse churrasco é que aqueles que foram homenageados acreditaram que eram heróis. Ninguém negou a bravata ou saiu para dizer: “Não, o presidente está exagerando”, ou “os aposentados são os verdadeiros heróis porque comem de vez em quando e ainda por cima os reprimem com paus e spray de pimenta”. O único tempero que costumam cheirar quando são reprimidos nas marchas em frente ao Congresso.

Os deputados aliados do governo se consideram heróis por terem vetado um mísero aumento das pensões. Talvez você já tenha sonhado em vestir capa e máscara, como o presidente em algumas de suas paródias antes de chegar à Casa Rosada.

Foram a Olivos para comemorar como se tivessem tocado o estado do nirvana na sua cruzada contra o déficit fiscal. É muito pornográfico. Eles apareceram como uma multidão na residência presidencial. Para zombar dos aposentados mais uma vez. Vários entraram na fazenda em vans camufladas ou em carros com vidros escuros.

São deputados que ganharam um subsídio mínimo de23.885 reais a partir de julho. Eles ganham quase quatorze vezes mais do que uma aposentadoria mínima (com bônus incluído) que em agosto girava em torno de 1.708 reais. É a esse heroísmo que se referia a toupeira totalitária, anfitriã da festa em Olivos. Eles não se privam de nada. Para o decoro colocaram uma lápide no topo. São, no mínimo, canalhas. Os leitores têm liberdade para adicionar qualquer adjetivo que desejarem.

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