O capitalismo e o canto da sereia

Sereia, Palácio Real da Madalena, Santander. Foto: Wikimedia
Sereia, Palácio Real da Madalena, Santander. Foto: Wikimedia

Por Dinovaldo Gilioli, para Desacato.info.

Na mitologia, sereias são criaturas metade peixe, metade mulher. Inebriados por seu canto, marinheiros lançam-se às águas e, como diz a canção, “vão com elas pro fundo do mar”.  Aventurar-se faz parte da vida, assim como sucumbir ao canto da sereia também. O que fica de lição, numa leitura psicológica do mito das sereias, é que a vida está para ser vivida o mais inteiramente possível, e isso pressupõe naufrágios e um enorme esforço para chegarmos inteiros a praia; nos adverte Vera Souza Dantas, no artigo olhai o canto da sereia!

O que tem a ver essa personagem da mitologia com o sistema capitalista, com o tal mundo globalizado, onde dizem que as fronteiras se dissiparam no ar?

No auge de mais uma de suas profundas crises, o capitalismo tem buscado envolver os trabalhadores na tentativa de escamotear as suas contradições, de amenizar conflitos, de redefinir o papel de suas entidades de classe. Vez ou outra, escutamos: o sindicalismo precisa se modernizar; o mundo mudou. Não somos mais chamados de trabalhadores. Agora, somos todos colaboradores! Simpático, não?

De forma explícita ou velada, vão imprimindo no inconsciente coletivo “novos” conceitos que visam adoçar a nossa relação com o sistema – que alguns acreditam que pode ser democratizado, humanizado. Você acredita que é possível democratizar um sistema que só sobrevive pela imposição autoritária de suas regras? Você acredita que é possível humanizar um sistema que exclui milhares à uma vida digna? Entre o mundo real e o apregoado pelos detentores do poder, do capital, há um profundo abismo: o que é, não é o que parece ser.

É inegável, o capitalismo tem seus encantos: dinheiro, poder, propriedade, prestígio. No entanto, não devemos esquecer que isto é para poucos. Um sistema econômico, voltado para manter a ganância e opulência de alguns, deve ser permanentemente combatido por todos que têm como perspectiva uma sociedade socialmente justa.

Não se deixe enganar, a luta de classes não acabou: capitalista é capitalista, trabalhador é trabalhador. Cuidado com o canto da sereia!

Dinovaldo Gilioli é escritor.

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