O Brasil e suas encruzilhadas

Por Dinovaldo Gilioli.

A crise brasileira, mais política do que econômica, está a desafiar especialistas sobre os possíveis desdobramentos do processo de impeachment da presidenta Dilma.  De fato, a oposição, capitaneada pelo PSDB e DEM, principalmente, e com ajuda de parte do PMDB e da grande mídia, está conseguindo levar a bom termo o propósito definido logo após o resultado da eleição: “vamos sangrar esse governo”. Obviamente que os escândalos – “recém descobertos”, têm servido de combustível altamente inflamável para incendiar o carcomido governo federal.

Numa ampla “aliança” partidária de matizes e interesses distintos, objetivando ganhar a eleição e ter governabilidade, a presidenta Dilma se encontra agora encurralada. A tese da governabilidade caiu por terra especialmente pela postura, (o que não é novidade na história brasileira), do maior partido do país – o PMDB.  Eduardo Cunha, apesar de chamuscado pela Lava-Jato, ainda tem folego para alardear a tese do impeachment e se apoia nisto como sobrevida na Câmara.

Independentemente da análise que se possa fazer do perfil e das opiniões dos participantes da manifestação do dia 13/03, não se pode desconsiderar que o ato retumbou no país inteiro; cujas principais palavras de ordem foram:  fora Dilma, fora Lula, fora PT, fora Cunha, fora Renan e contra a corrupção. Quem achou que iria faturar, foi escorraçado. Lideranças do PSDB (Aécio Neves e Alckmin), tiveram que sair de fininho da manifestação na cidade de São Paulo.

Ou seja, se a carga pesada está sobre o PT não quer dizer que não sobrem faíscas para os outros partidos que desejam se apropriar do movimento e – quando interessa, até serem protagonistas. Os manifestantes do dia 13/03 deixaram um claro recado: chega de Dilma, chega de Lula, chega de PT! No entanto, também não pouparam outros partidos, outros políticos supostamente corruptos! E, agora José?

Aí é que está. Se a Dilma sai, em tese quem assume é o vice Michel Temer. Em tese, porque ainda não se sabe como ficará a posição do PMDB, ou parte dele, junto ao governo federal. Mas, a questão fundamental é a seguinte: além de se combater a corrupção e os corruptos, o que me parece natural, qual a proposta, qual é a alternativa ou as alternativas que se apresentam para o país?

Em minha opinião, tanto a saída de Dilma ou sua permanência – caso não se efetive o impeachment, não é a questão central. A questão principal é: qual o projeto que se vislumbra para o Brasil? Neste sentido, entendo que as manifestações contra e pró Dilma precisam alcançar um patamar político mais elevado. O ranço e animosidade reinantes não ajudam, e a defesa da democracia, embora necessária e urgente, tem seus limites.

Que o Brasil vive uma de suas piores crises políticas, é fato. Que a oposição tem se utilizado da atual crise econômica para botar mais gasolina na fogueira, também é fato. Diante disto, qual é o rumo, quais são as propostas reais e objetivas capazes de desenvencilhar-se dos nós da atual política rasteira e comezinha. O que fazer para o país avançar em favor de seu povo?

Este é o desafio posto aos políticos honestos, realmente comprometidos com os interesses da nação e de sua gente. Esse é o desafio para todos os cidadãos e cidadãs conscientes de seu papel na política, com P maiúsculo. O Brasil e suas encruzilhadas dependem muito das ações articuladas da sociedade civil organizada. Ainda que um e outro pouse de herói, não há salvador da pátria!

 

Dinovaldo Gilioli, autor dos livros Sindicato e Cultura (Sinergia/Editora Insular) e Cem poemas (Editora da UFSC), entre outros.

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