Por Isabel Gnaccarini*
A segunda e última tarde do “Fórum Brasil – Diálogos para o Futuro”, a mesa “O Brasil do Pré-Sal e das Energias Limpas” foi aberta por Wilson Ferreira Jr., presidente do Grupo CPFL Energia. Encarregado de falar sobre as fontes limpas na matriz energética brasileira, na quarta-feira 19, Ferreira disse acreditar que o Brasil está em situação confortável em relação a outras nações.
Do total da energia gerada por várias fontes no mundo, apenas um quarto é proveniente das consideradas renováveis. O desafio é reduzir a dependência daquelas que se esgotam, caso do petróleo e derivados. Nesse sentido, o Brasil está em posição favorável: 82% da geração elétrica proveem de fontes limpas e renováveis. “Apesar desta vantagem, não temos sido capazes de tirar proveito econômico dela. E a razão é que ainda ha pouco investimento em nossos parques geradores.”
Quanto às emissões de gás carbônico (CO2), o executivo da CPFL observou que o Brasil tem um dos melhores índices por unidade de PIB. “Nossa matriz limpa nos coloca na terceira posição em nível mundial, depois de Suíça. A China está em sétimo lugar. Se, por outro lado, avaliarmos as emissões de CO2 em relação a cada megawatt de energia gerada, pela ordem a liderança do ranking é suíça, seguida do Brasil, depois Itália, Rússia, EUA, China e Índia, pela ordem.”
O executivo lembrou o histórico da política das mudanças no clima debatidos em 1979, com a 1a Conferência Mundial (Genebra, Suíça), e depois na Rio 92. “Ainda hoje, depois de 30 anos de políticas internacionais, falta um acordo realista de metas claras entre as nações. E não há estímulos definidos por parte dos países historicamente poluidores.”
O presidente do Grupo CPFL Energia também lembrou como a educação ao consumidor é importante para ajudar na redução de emissões.
Financiamento – Os níveis de descontos nas tarifas de energias renováveis e os incentivos para o seu consumo têm sido um fator de equilíbrio no uso da matriz nacional. Isso é uma tendência mundial. Na Alemanha, por exemplo, o governo apoia a produção (e instalação) de fontes de energia renovável com subsídios de 60%. O programa de compra voluntária de energia elétrica de origem renovável pelos consumidores por meio de um acréscimo na tarifa é um incentivo de marketing verde que fomenta a produção de energia solar doméstica. O país também faz evoluir o uso das energias renováveis no transporte.
De qualquer maneira, a capacidade de energias limpas instalada na matriz energética brasileira vem evoluindo: as eólicas (provenientes do vento) devem continuar crescendo 25,5% e as PCHs (pequenas hidrelétricas), 3,5% – dados de 2007 a 2020. Ferreira lembra que os custos ainda são favoráveis para as hidrelétricas, “mas as eólicas estão crescendo e fazendo face a esse modelo tradicional”. “Se somadas todas as fontes renováveis, é mais barato para o Brasil explorar este segmento de maneira geral”.
Impasse – O único senão para o país é que suas hidrelétricas já não são mais do tipo que contam com grandes reservatórios – a exploração é de fio d’água -, implicando em menos possibilidade de armazenamento. Com a capacidade existente no ano 2000, estaríamos garantidos em seis meses. Atualmente, esse prazo caiu para quatro a cinco meses de energia estocada. “Estamos cada vez mais dependentes das chuvas no que se refere à capacidade energética instalada e por isso devemos fomentar fontes alternativas”, avaliou. “Sem as energias limpas, teremos de lançar mão das térmicas.”
As PCHs são consideradas uma alternativa viável, principalmente para as regiões do Sul e Sudeste, onde não há mais potencial a ser explorado por grandes hidrelétricas. Em termos nacionais, o que está previsto para Norte e Centro-Oeste é o desenvolvimento do potencial de 80 mil megawatts das usinas da Amazônia, como as do rio Madeira, por exemplo. Esse valor é grande, se comparado com o que já é produzido hoje: um total de 120 MWh.
A energia eólica é uma fonte complementar positiva – os ventos representam um potencial de 126 mil a 300 mil MWh para o Brasil. No entanto, o governo ainda não tem fôlego para tornar viável a transmissão da energia gerada em 40 parques privados já instalados. A biomassa, uma das bases energéticas, trabalha nos dias de hoje com produção de celulose de segunda geração, com potencial para dobrar a quantidade nos próximos 10 anos. A tecnologia ligada à extração da cana de açúcar e geração de bioenergia é 100% nacional.
Em suma, os desafios para o futuro próximo são: 1) políticas públicas de estímulo; 2) incentivos à inovação; 3) disponibilidade e acesso de capital; e 4) os incentivos ao estabelecimento de cadeias de valor.
Energias fósseis – Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, falou sobre as investigações para exploração do pré-sal e avaliou que esta etapa preliminar já foi realizada. Hoje, sua gerência tem a responsabilidade de implantar e retirar os recursos petrolíferos e gases do subsolo.
Sua palestra focou na demonstração de como o pré-sal está disposto ao longo da costa brasileira. A província do pré-sal, área que se estende do sul do Espírito Santo até o litoral paulista, variando as espessuras das camadas e os volumes do petróleo, possui atualmente 171 poços em exploração. A Bacia de Campos (RJ) é a região com maior área territorial, mas em camadas mais profundas a serem perfuradas. Hoje a exploração é mais rápida. “Reduzimos de 134 dias (2006) para 50 dias (2013) este tempo”.
O governo tem conhecimento de que a matriz brasileira deve seguir a trilha da sustentabilidade e, portanto, continuará a incentivar a expansão das energias renováveis. A Petrobras tem se dedicado a se tornar maior sem ameaça às energias limpas, garante Fraga, que também informa que há incentivos às pesquisas nesta direção.
A questão foi também debatida pelo físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe/UFRJ e ex-presidente da Eletrobrás; e por Carlos Fadigas, presidente da Braskem, empresa de bioenergia. Em sua fala, Pinguelli Rosa lembrou que a cooperação entre Petrobras e a Coppe data dos anos 1970 e que isso teve um significado importante na história da política energética no Brasil. O desenvolvimento de tecnologias decorrentes dessa parceria teve um grande peso, pois envolveu a indústria nacional na exploração nacional do petróleo.
Clima e energia – Há problemas que afetam a questão do clima, como o desmatamento amazônico, diz Pinguelli. Ele afirma que a redução do desmatamento nos últimos anos é parte do compromisso do governo firmado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) até 2020. Até lá, avisa que as pesquisas para o desenvolvimento de ônibus híbridos, movidos a diesel e energia solar, além de várias outras tecnologias voltadas às energias limpas, continuam aceleradas no Coppe.
Sergio Lirio, redator-chefe de CartaCapital e mediador da mesa, provocou a discussão sobre o possível racionamento de água e energia neste ano. Wilson Ferreira Jr., da CPFL Energia, disse que é preciso esperar um pouco de tempo para uma avaliação mais precisa. “Caso haja este perigo, o governo usará 25% de energia vinda de termoelétricas”, opinou, no que teve a concordância de Pinguelli Rosa.
*Isabel Gnaccarini, da Envolverde, especial para CartaCapital
Fonte: Carta capital
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