O bilionário tirou a máscara. Por Rita Coitinho.

Dono do X fez um gesto semelhante a uma saudação nazista
Elon Musk, dono do X faz saudação nazista durante o evento da posse de Donald Trump. Foto: Angela Weiss/AFP

Por Rita Coitinho.

O gesto do bilionário foi deliberado. Braço esticado, 60 graus (por aí) de inclinação. Levantar e abaixar enérgico, dirigido à plateia. O rosto imbecil e muito branco, algo oleoso, muito sério, o olhar minúsculo e descolorido crispado, levemente agressivo. Assumia-se nazista perante o mundo. Ele, que herdou fortuna feita durante o apartheid sul-africano. Ele, filho de branco sul-africano. Há alguma espécie de branco mais abjeta do que essa, enriquecida sobre os escombros das vidas de milhões de homens e mulheres amontoados em bantustões em pleno século XX, o século em que o nazismo fora esmagado na Eurásia, o século da ONU, da Declaração Universal dos Direitos Humanos?

Nenhum racismo tem perdão, mas o racismo do pós-guerra é o mais vil de todas as coisas infames que a mente humana é capaz de produzir. Porque é racismo informado de ser racista. Não faltavam mais evidências. Não faltavam mais exemplos. Já haviam caído por terra todas as desculpas esfarrapadas que a Europa exportou acerca de superioridade racial, “mal que vem para bem”, também conhecido como exportação da civilização, ou, ainda, “fardo do homem branco” (que exista inferno e que ele te seja quente, Kippling. Que te seja eterno, Roosevelt).

Então o bilionário, o que comprou e destruiu o Twitter, o que vai lucrar loucamente enquanto está sentado sobre uma função pública sustentada pelo povo dos Estados Unidos, o que recebeu a encomenda de destruir tudo o que resta, se é que ainda resta, de mecanismos que obrigam o Estado americano a atender seus próprios cidadãos enquanto garante-se o lucro exorbitante de um punhado de bilionários, assumiu sua face, que é a mais franca e bárbara do capital: o nazifascimo. Essa ideologia, que surgiu inspirada na segregação racista estadunidense e foi apropriada e resignificada na Alemanha dos anos 1930, enfim volta para casa. Retorna pela mão de um filho de outro apartheid, o Sul-Africano.

Se tivéssemos colocado isso em uma história de ficção, seríamos criticados por falta de originalidade. Ora, que “reviravolta””mais permeada de obviedades essa, de um filhinho-de-papai que usufruiu do apartheid e que vai para os EUA, berço dos regimes de segregação racial, junta-se com políticos de extrema-direita, lucra com o espraiamento dos discursos de intolerância nas redes que ele próprio controla e se torna um autodeclarado nazifascista! É tão óbvio esse desfecho que não merece nem ser escrito.

É mesmo muito difícil disputar com os fatos. Nada é mais absurdo e ao mesmo tempo mais lógico do que o real. Especialmente em nosso tempo, nessa era em que os monopólios informacionais não apenas controlam o que é dito e não dito, mas impõem um novo real a partir da mentira. A fórmula de Goebbels — aquele nazista — de repetir a mentira a ponto de que seja tomada como verdade hoje ganha novos contornos: mentir nas redes controladas pelas big techs a fim de que que se fabrique o real.

E o que é esse novo real? É a distopia do capital: não há mais barreiras à defesa da expoliação do trabalho. A missão dos bilionários na política é tão somente a de arrancar o lucro ao custo dos milhões de seres humanos que serão descartados no processo. Nenhuma soberania está a salvo dos bilionários: os financistas decidem o fim dos governos enquanto as big techs impulsionam as massas contra qualquer medida a seu próprio favor. Queime-se o que resta de bem-estar social! Ajoelhem-se os governos mais fracos! Alimentem-se as hordas de crentes, cada vez mais idiotizados, arregimentados por vigaristas que buscam mordiscar os farelos do banquete eterno dos donos do planeta.

***

Pós-escrito: Enquanto escrevia, enxerguei o lado bom disso tudo. Verdade! Compartilho aqui com meus (parcos) leitores: alegrem-se, as máscaras estão sendo abandonadas. E se assim é, também nós não precisamos mais usar nenhuma.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

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