Por Thiago Burckhart.
Nas últimas semanas ocorreu a VI Cúpula dos BRICS, com a presença dos chefes de Estado da Rússia, Índia, China, África do Sul e do Brasil, em Fortaleza, Ceará. O grande anúncio já esperado para acontecer no evento, era a criação do banco dos BRICS, que terá sede em Xangai, na China e terá como capital inicial US$ 50 bilhões destinados para financiar obras de infraestrutura em países pobres e emergentes.
Por um lado, a criação do banco dos BRICS é um grande avanço no fortalecimento dos países emergentes. Pouco a pouco percebe-se que essas potências ganham maior espaço e relevância na geopolítica internacional, tornando o jogo multipolar como um movimento estratégico contrário à grande hegemonia estadunidense, que apesar de ter perdido força com a crise econômica desde 2008 ainda é a maior potência econômica mundial. Ainda se fala na reunião ocorrida em Fortaleza fazendo-se alusão a um novo Bretton Woods, uma negociação capaz de estabelecer uma nova ordem econômica internacional a partir da aliança de forças contrárias a grande hegemonia e de uma nova “arquitetura alternativa”. Desde a crise econômica de 2008, a ordem internacional cambiou consideravelmente, e tudo indica que se estruturará a construção de uma ordem multipolar e, nesse sentido, o processo de criação do banco dos BRICS seria uma alternativa positiva, um primeiro grande passo nessa direção.
Contudo, por outro lado, diversas críticas surgiram no sentido de questionar-se até que ponto os BRICS são uma alternativa à hegemonia estadunidense, e se esse novo banco não seria mais um complemento para o sistema financeiro global. Essa crítica ainda é acompanhada pela preocupação com o respeito aos direitos humanos nesses países, sabe-se, por exemplo, que as empresas chinesas são grandes violadores de direitos humanos e o fazem em nome do crescimento econômico. Além disso, os números mostram que o Brasil é o único país dos BRICS que vem reduzindo suas desigualdades (conforme dados do IPEA, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – Pnad), tarefa que os outros países que compõem o bloco não vem conseguindo realizar. Dessa forma, a preocupação da sociedade desses países é de que o banco dos BRICS não se apegue a um discurso economicista, esquecendo-se de seus comprometimentos com a redução das desigualdades sociais e com o respeito aos direitos humanos.
Esses são os dois lados da moeda no que tange a criação dos BRICS. De fato, todos são argumentos que remetem a uma realidade vivida por esses países, e que deverão agir com sabedoria para que a criação desse banco não torne-se uma maquinaria a mais ao sistema financeiro. O desenvolvimento econômico e o fortalecimento das relações multilaterais são positivos desde que se respeite aos direitos humanos e estejam comprometidos com um projeto social e político claro e objetivo, como o é a redução das desigualdades sociais ainda muito presentes no cenário desses países. O fortalecimento das relações Sul-Sul também é de grande importância hodiernamente, mas também deve ser arquitetado com o respeito aos direitos humanos e no desenvolvimento social, democrático e cidadão.
Thiago Burckhart é estudante de Direito.
Imagem: www.latindadd.org