Vítima de corrupção, e dos que desejam inviabilizá-la, empresa reduziu drasticamente seus investimentos sócio-culturais. Atitude golpeou centenas de projetos, de valor irrisório frente ao faturamento total.
Por Lorhan Caproni e Izadora Mattiello.
Quase um ano apo?s o ini?cio das investigações sobre corrupção na Petrobras,, comec?amos a perceber que os desdobramentos do que ocorreu com a empresa podem trazer conseque?ncias ainda mais devastadoras.
Em junho de 2014, a Petrobra?s anunciou no Social Responsibility Global Village, parte integrante do World Petroleum Congress (WPC), em Moscou, um investimento da ordem de US$ 750 milho?es entre 2014 e 2018, em projetos sociais e ambientais. Tinha como foco sete linhas de ac?a?o: Produc?a?o Inclusiva e Sustenta?vel, Biodiversidade e Sociodiversidade, Direitos da Crianc?a e do Adolescente, Florestas e Clima, Educac?a?o, A?gua e Esporte.
Na condição de um dos maiores investidores sociais do Brasil, a Petrobra?s seleciona seus projetos atrave?s de editais nas a?reas de desenvolvimento e cidadania, socioambiental e esporte. Os projetos duram cerca de dois anos e apo?s esse prazo e avaliac?a?o do projeto implantado, pode ocorrer a renovac?a?o.
E? justamente ai? que comec?a o problema…
Somente no Estado de Sa?o Paulo, mais de vinte organizac?o?es sociais contavam com a renovac?a?o e ainda na?o obtiveram uma resposta, sendo que o prazo para o posicionamento da empresa ja? se esgotou.
Estamos nos referindo a 10 mil crianc?as, adolescentes, jovens e mulheres que, sem os espac?os de lazer, esporte, cultura, convive?ncia, cidadania e capacitac?a?o profissional, voltara?o a ficar susceti?veis e a? merce? de inu?meras situac?o?es perigosas, diversas formas de viole?ncia, ao crime organizado e situac?o?es de neglige?ncia.
Muitas organizac?o?es sociais possuem altos ni?veis de depende?ncia do financiamento da Petrobra?s (em alguns casos ate? 60% dos recursos da organizac?a?o sa?o originados desse edital e a na?o renovac?a?o tambe?m refletira? em demisso?es de seu quadro de colaboradores). No Brasil, sa?o 130 projetos contemplados com mais de R$ 145 Milho?es investidos nessa situac?a?o de incerteza e risco.
Em junho, na apresentac?a?o de seu novo plano de nego?cios Gesta?o 2015- 2019, a Petrobra?s anunciou reduc?a?o de 37% nos seus investimentos. Nesse contexto, ficam as perguntas:
> Esses investimentos tambe?m sofrera?o cortes? Qual o tamanho do corte? Quem sera? exclui?do do financiamento e quem sera? beneficiado? Com qual crite?rio?
> Como se mantera?o as organizac?o?es sociais civis sem a continuidade desses projetos? Ale?m da possibilidade da na?o renovac?a?o do contrato, a falta de informac?a?o e? o que as deixa sem perspectiva quanto ao seu futuro. Demitir a equipe profissional? Fechar suas portas?
> Estamos falando de organizac?o?es sociais civis no Brasil inteiro, com projetos contemplados e expectativa de renovac?a?o que atuam na garantia dos direitos da crianc?a e do adolescente, de educac?a?o para a qualificac?a?o profissional, gerac?a?o de renda e oportunidade de trabalho.
A corrupção sofrida pela Petrobrás e a tentativa de atingir a empresa na?o vão impor altas perdas somente para os acionistas — mas a crianc?as, adolescentes e adultos desamparados. Estes sera?o os que sofrera?o as maiores perdas.
Enquanto esperamos uma resposta, e? preciso nos mobilizarmos, envolver empresas, governo, fundac?o?es, institutos e fami?lias para que possamos juntos garantir a sustentabilidade desses projetos e diminuir a depende?ncia de um u?nico financiador. Caso contra?rio, teremos uma nova classe de projetos sociais: os o?rfa?os da Petrobra?s.
Fonte: Outras Palavras