O Arco e a Lira e Octavio Paz. Por Michel Croz.

Por Michel Croz.

Tradução ao português Verônica Loss.

Neste terceiro encontro do ciclo 4 x 5= PO3SI4, nos acompanhará “O Arco e a Lira”, tanto como imagem literal e literária. Literal porque será disso que trataremos, dialogaremos, ensaiaremos os significados e significantes da poesia simbolizados pelo arco e a lira da Grécia clássica. 

Literária porque nos aprofundaremos nas reflexões poéticas de Octavio Paz (Cidade do México, 1914-1998) sobre a poesia e o poema.

Viemos de Lorca e seu romance com o duende e a Lua. Também de Marguerite Duras e sua escritura que ilumina com a escuridão (assombro que logra pela palavra, por exemplo, transformar uma mosca moribunda, em um evento existencial).

Nesta sexta feira, 18/02 às 20h, em Calle Brasil Cultural (Brasil 456 Rivera), comungaremos com a poética do grande mestre mexicano Octavio Paz, memorável poeta, reconhecido com augustos prêmios.

Homem do mundo, e ligado a diversas lutas sociais, também foi embaixador na Paris das vanguardas surrealistas, onde tomou contato, entre outros, com César Vallejo e Pablo Neruda, e foi convidado a participar do Congresso de Escritores Antifascistas de Valência.

Até finais de setembro de 1937 permaneceu na Espanha, onde conheceu pessoalmente a Vicente Huidobro, Nicolás Guillén, Antonio Machado e a destacados poetas da geração de 27, como Rafael Alberti, Luis Cernuda, Miguel Hernández. Além de visitar o front, durante a guerra civil espanhola (1936-1939) e escrever numerosos artigos em apoio à causa republicana.

De novo no México, fundou em 1935 o grupo poético e teatral Poesia em Voz Alta, e posteriormente iniciou suas colaborações na Revista Mexicana de Literatura e em O Corno Emplumado. Nas publicações desta época defendeu as posições experimentais da arte contemporânea. Na década de 60 voltou ao Serviço Exterior, sendo destinado como funcionário da embaixada mexicana em Paris e mais tarde na Índia. Renunciou ao seu trabalho diplomático por não estar de acordo com o presidente Gustavo Díaz Ordaz (que deu a ordem do massacre de estudantes na praça de Tlatelolco em 1968).

Exerceu desde então a docência em universidades americanas e européias, enquanto prosseguia sua infatigável labor cultural ditando conferências e fundando novas revistas, como Plural (1971-1976) e Vuelta (1976). Em 1990 lhe foi concedido o Nobel de Literatura, coroando uma trajetória exemplar previamente reconhecida com o prêmio máximo das letras hispanoamericanas, o Prêmio Cervantes (1981), e se veria de novo premiado com o Príncipe de Astúrias de Comunicação e Humanidades (1993).

“A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Prece no vazio, diálogo com a ausência: o tédio, a angústia e o desespero a alimentam. Oração, ladainha, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, naç?es, classes. Nega a história: em seu seio se resolvem todos os conflitos objetivos e o homem adquire finalmente consciência de ser algo mais que trânsito. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso, fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Brincadeira, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas não são senão correspondências, ecos da harmonia universal.” (*)

(*) “O Arco e a Lira” Octavio Paz (1956)

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