O apartheid como ferramenta para a sobrevivência sionista

Por Ziad Hamidan.

Se alguém pretende entender o regime de Apartheid que existe nos Territórios Ocupados da Palestina, a realidade é a única evidência necessária.

Atualmente os palestinos (pt, palestinianos) necessitam documentos especiais – visados – para visitar a sua capital Jerusalém, para entrar na Palestina histórica, como a Akka ou Haifa, ou até no interior de Cisjordânia, se querem trabalhar nos assentamentos ou nas áreas que ficaram entre o Muro e a Linha Verde.

Enquanto isso, os colonos que vivem na Cisjordânia não necessitam essas autorizações. Aqui a discriminação entre os primeiros e os segundos é evidente.

Existe outra flagrante política discriminatória: o sistema de rotas que cruzam e dividem Cisjordânia. Israel construiu estradas de circunvalação que ligam os assentamentos entre si e com a Palestina histórica.

Os israelenses (pt, israelitas) proíbem aos palestinos (pt, palestinianos) a utilização dessas estradas; são unicamente para os cidadãos israelenses (pt, israelitas).

Mas a principal política discriminatória é a que permite aos judeus o chamado “direito de retorno”, enquanto que os palestinos (pt, palestinianos), especialmente os refugiados, não têm o direito de regressar à sua terra natal.

Claro que as autoridades israelenses (pt, israelitas) não aplicam estas políticas discriminatórias aberta e francamente. Foram especialmente inteligentes em desenvolver este apartheid sem declará-lo como tal, como aconteceu na África do Sul. Uma vez mais, os documentos constituem um bom exemplo. Não foi aprovada nenhuma lei nem anunciada publicamente uma nova política estrutural antes de emitir os documentos cor-de-laranja para os palestinos (pt, palestinianos) em Cisjordânia, os encarnados para os de Gaza e documentos azuis para os residentes de Jerusalém Oriental. Isto criou uma distinção artificial entre os palestinos (pt, palestinianos) e produziu uma separação de facto entre Jerusalém e a população palestiniana, por exemplo.

A lista das políticas do apartheid é comprida: o Muro, os postos de controle, as fronteiras, as facilidades que os colonos têm para construir e as constantes demolições que sofrem as vivendas ou infraestruturas palestinianas; as oportunidades laborais, salários e sobretudo os dois sistemas legais em vigor na Cisjordânia: a lei marcial para os palestinianos e a lei civil israelita para os colonos.

A realidade está bem à vista, mas muitas destas políticas israelenses (pt, israelitas) foram disfarçadas e legitimadas pelo acordo de Oslo nos noventa e durante os seguintes 20 anos das chamadas conferências de paz. Os acordos de Oslo brindaram aos israelitas (br, israelenses) a oportunidade de continuar aplicando o seu plano. Depois da Segunda Intifada, os resultados foram evidentes.

Com o processo de Oslo, os israelitas (br, israelenses) querem criar algo parecido aos bantustões da África do Sul. Agora os israelitas têm a liderança com quem discutir e a quem transferir todas as obrigações que eles próprios não queriam assumir: fornecer aos palestinianos os serviços básicos, segurança, representação governamental, etc. Sim, isto significa que agora a ANP tinha forças militares no terreno, porém tudo estava – e ainda está – sob controle israelita.

Enquanto que os palestinianos consideram a ANP como uma ferramenta para conseguir a independência, os israelitas utilizam-a para manter e incrementar o regime de Apartheid em Cisjordânia. A ANP atualmente não é uma ferramenta para conseguir a independência.

A nível económico, o salário médio de um palestiniano é inferior a 400 dólares por mês, enquanto que o salário mínimo israelita é superior a 1.000 dólares. Esta é a estrutura económica aprovada pelo processo de Oslo e o supervisor palestiniano desse acordo foi a ANP. Agora estamos pagando os mesmos impostos para tudo, desde o combustível até à comida. Estamos vivendo sujeitos à mesma estrutura económica, em que Israel é o único que controla o que entra e sai do nosso território.

Neste contexto, a existência da  ANP fortalece estas políticas de apartheid israelitas. Isto é o que querem os israelitas: utilizar a ANP para fortalecer esta situação de desigualdade económica. A ANP trata de usar esta posição para conseguir a independência da sua gente, mas isso é inviável. Jamais conseguiremos a independência através de Oslo. Vinte anos de negociações demonstraram que Israel teve êxito na estratégia e que hoje em dia a ANP está servindo para fortalecer a ocupação israelita, ao seu projecto colonial e está ajudando a aumentar a política de apartheid.

O êxito desta estratégia é vital para o projecto sionista e para o Estado de Israel, entendido atualmente como um Estado judaico. Para os israelitas, este apartheid é uma ferramenta para melhorar e garantir a sua hegemonia sobre o território. Não nos necessitam, como o apartheid sul-africano necessitava a população negra como mão-de-obra barata, mas também não podem desfazer-se de nós. Já o tentaram, mas ainda existimos. Têm um milhão e meio de palestinianos dentro da Palestina histórica, quatro milhões nos territórios ocupados e estão rodeados de 300 milhões de árabes.

Como podem proteger o projecto sionista? Necessitam este apartheid para, pelo menos, garantir a sua existência como Estado colonial sionista.

Centro de Informação Alternativa (AIC), Jerusalém.

Fonte: AIC – Alternative News

Tradução: SionismoNet

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