O dia quatro de setembro de 1997 foi o dia em que a minha sobrinha Smadar foi assassinada. Para mim e a minha família, sempre será um dia triste, um dia que traz más notícias. Foi em quatro de setembro quando chegou aquele telefonema da minha mãe me dizendo que tinha havido uma explosão em Jerusalém, enquanto assistia ao horror ao vivo na CNN. Aquelas palavras: “Houve uma explosão e não conseguimos achar Smadar” soarão para sempre nos meus ouvidos. Horas mais tarde isto se confirmava e eu estava a caminho de Jerusalém para o funeral.
Ninguém me advertiu que eu veria no jornal da manhã em Jerusalém enquanto chegava ao aeroporto: “A neta do ativista pela paz, o general (R) Matti Peled…”. Ainda era muito cedo. Até agora não sei o que dizer nesse dia ou o que pensar à medida que o quatro de setembro se aproxima. Naquele dia eu chorava nos braços da minha irmã feito criança e, ano após ano, tenho o mesmo sentimento. E agora também.
Enquanto íamos embora do enterro, no rádio tocava a nova versão de “Candle in the Wind” e Nurit, minha irmã, nunca se perdoaria ter deixado sua menina sepultada na terra. Durante sete dias e seis noites, a casa onde eu nasci, e onde Smadar morava, veria muitos rostos. A porta do apartamento em Jerusalém através da qual alguma vez entraram generais e diplomatas e onde agora tem um adesivo que diz PALESTINA LIVRE, foi aberta para pessoas que procuravam uma luz no fim das suas escuras vidas.
Quando Smadar foi morta, o primeiro ministro era Bibi Netanyahu. Pediram para ele não se aproximar e se autopoupar da indignidade de enfrentar a nossa família. Hoje Bibi é o primeiro ministro mais uma vez. Entre os que vieram dar seu pêsame esteve Ehud Barak. O General, soldado condecorado e agora ministro da “Defesa” de Israel– responsável direto da morte de milhares de israelenses e palestinos inocentes. Na época ele era o presidente do partido Trabalhista e as pessoas tinham a esperança de que ele fosse diferente. Atualmente, Barak é um poderoso ministro da “defesa” à cabeça da imparável máquina de guerra de Israel– que põe todo o peso do mamute que lidera para que a morte mantenha o seu domínio.
Todo ano tento e todo ano fracasso quando procuro enfrentar de algum jeito este dia terrível. E todo ano, o quatro de setembro traz mais tristeza. Traz mais tristeza devido a que uma menina foi morta e tantos milhares de pessoas morreram desde então por conta da mesma causa evitável: o terrorismo israelense.
Este terrorismo faz parte do discurso de israelenses e apoiadores de Israel: Te encara no aeroporto Ben Gurion quando os palestinos são humilhados todo ano. Você vê o terrorismo israelense nas marchas pacíficas semanais na Cisjordânia, quando o exército atira nos manifestantes e os prende. O terrorismo cresce nas prisões israelenses, onde milhares de palestinos têm sido torturados durante décadas. O terrorismo israelense é imparável em Gaza, onde milhões de pessoas estão trancadas em um campo de concentração ao ar livre e onde pilotos israelenses jogam bombas nos civis e depois se parabenizam pelo bom trabalho. E agora o terrorismo chega até a Pérsia, com as ameaças de Israel de bombardear o Irã e aterrorizar os seus 75 milhões de habitantes.
Se quisermos que neste lugar parem de morrer meninas, está na hora de parar o terrorismo israelense. Enquanto isso, o quatro de setembro continuará sendo o dia em que morreu Smadar, a minha doce sobrinha de treze anos.
Tradução: Projeto América Latina Palavra Viva.
Artigo no original em inglês: http://mikopeled.com/
Mais sobre Miko Peled em http://desacato.info/2012/08/o-filho-do-general-e-a-luta-pela-paz-na-palestinaisrael/