Por Jorge Elbaum.
A direita nasceu das entranhas do poder dominante. Sua tarefa básica tem sido garantir a desigualdade, promover a legitimidade do privilégio e impor formatos supremacistas destinados a inferiorizar os verdadeiros produtores de riqueza, os trabalhadores.
O conceito de “direita” nasceu para minar a radicalização da Revolução Francesa e, desde 1789, tem cumprido a tripla função de restringir o empoderamento popular, fragmentar sua identidade e reprimir seus líderes.
A direita sofre mutações para ser mais eficaz no controle social. Estuda alternativas para enfraquecer a maioria da população por meio de mecanismos materiais (econômicos, repressivos, territoriais) e simbólicos (educacionais, culturais, jornalísticos). Eles estão cientes de que a unidade do povo implica um confronto que levaria à sua derrota e à consequente democratização do poder em todas as suas formas.
Suas adaptações contemporâneas cumprem os três projetos originais:
(a) impedir a solidificação de redes compactas de solidariedade capazes de dotar os setores populares de uma identidade social coerente,
(b) segmentar constante – e insistentemente – os trabalhadores para impedir a configuração de uma consciência de classe unificada e
(c) desacreditar, isolar, espionar, infiltrar-se e até mesmo assassinar aqueles que assumem uma representação coletiva dos grupos subalternos.
Atualmente, o primeiro objetivo é operacionalizado por meio da difamação, chantagem e zombaria sistemáticas daqueles que buscam integrar modelos de solidariedade horizontal e protagonismo baseado em assembleias.
Para atingir esse objetivo, as organizações populares são racializadas, transformando seus membros (despossuídos, vulneráveis e encurralados) no espelho em que aqueles que se juntam a suas forças devem se ver.
A doutrina da destruição moral do povo busca impor o autodesprezo por meio da insaturação de um aspiracionalismo inverso: ninguém deve/pode se identificar com o perdedor, o despejado e o perseguido.
Nesse plano, tenta impor a derrota como o único destino da luta coletiva, destruindo a memória das vitórias alcançadas e dos feitos heroicos dignos de comemoração.
A des-historicização e a construção de uma imagem de inequívoca superioridade (dos setores dominantes) é a tarefa fundamental daqueles que buscam dar continuidade à ordem estabelecida: a preponderância “por direitos naturais” e também – ao mesmo tempo – pelo poder de fogo. Uma combinação destinada a fazer com que os trabalhadores se julguem derrotados antes mesmo de tentarem se organizar.
É claro que esses projetos são instituídos a partir do duplo andaime material do econômico (baixos salários, sujeição ao desemprego, ameaça de precariedade) e da propagação pedagógica e midiática. Duas faces da mesma moeda, cunhadas para impor o desânimo e o abandono de qualquer forma de rebelião.
A segunda forma, aquela ligada à fragmentação, é realizada por meio da internalização das diferenças. Trata-se de impor a crença de que as menores distinções (étnicas, de gênero, de orientação sexual, territoriais, religiosas, fenotípicas, tribais etc.) competem com a pertença à classe trabalhadora. Dessa forma, os múltiplos grupos populares são forçados a competir pelo que “não têm em comum”, esquecendo-se daquilo que os torna iguais diante daqueles que os subalternizam.
O terceiro dispositivo foi projetado para romper a relação entre os líderes e o povo. Para isso, são coletadas informações sobre os líderes populares, detalhando e demonizando suas falhas ou fraquezas, a fim de transformá-las em crimes ou exemplos de corrupção. Se eles não forem encontrados, o objetivo é inventá-los para manchar o prestígio do líder e, posteriormente, iniciar um processo de criminalização política (lawfare).
Os três mecanismos se sobrepõem e são executados simultaneamente. Seu objetivo final é derrotar o povo para que ele se torne dócil e aceite a dominação.
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