Londres – O sobrenome – Diamond – parece marcá-lo para o reluzente mundo dos multimilionários. Segundo seus admiradores, Bob é um Midas que transforma tudo o que toca em ouro. Segundo seus detratores, é o rosto mais emblemático de um capitalismo financeiro convertido em roleta descontrolada capaz de derrubar a economia mundial com suas apostas. A corrente especulativa acabou carregando-o: Robert “Bob” Diamond renunciou nesta terça-feira (3) como diretor executivo do Barclays. Na quarta comparece ao Parlamento britânico e, segundo os rumores, prepara uma vingança de dragão ferido: apontar seu dedo para o vice-presidente do Banco Central da Inglaterra, Paul Tucker. Na página do banco na internet houve uma pequena prévia disso com a publicação de um email que insinua que Tucker sugeriu a Diamond que manipulasse sua estimativa das taxas de juros interbancárias, centro do atual escândalo.
Com o orgulho um pouco ferido, Diamond não ficará em má situação. Com a última bonificação especial de 18 milhões de dólares, ele terminou ganhando mais de 50 milhões o ano passado, o que autoriza o título dado a ele de mago das finanças (pessoais). Como diretor executivo do Barclays sua estrela se eclipsou abruptamente na semana passada quando o banco pagou mais de 400 milhões de dólares de multa por manipular a taxa de juro interbancária entre 2005 e 2009. As ações do banco caíram 15%, o que significou cerca de 7 bilhões de dólares apagados da cotação da empresa nas bolsas de valores. O Midas que havia erguido do nada o poderoso Barclays capital – braço investidor especulativo do Barclays – começava a converter tudo o que tocava em barro.
Não foi o primeiro escândalo do Barclays sob sua direção. O banco tem que pagar mais de dois bilhões de dólares em multas pela venda fraudulenta de um seguro, o IPP, que dezenas de milhares de clientes adquiriram sem saber, como parte da compra a crédito de um produto. Como usuário prolífico de paraísos fiscais, com mais de 300 subsidiárias na Ilha de Mann, Jersey e nas Ilhas Cayman, o banco teve que admitir no ano passado que havia pago 113 milhões de libras em impostos apesar de seus lucros chegarem aos 12 bilhões de dólares: uma carga de impostos de 1% (o imposto corporativo correspondente era de 28%).
Um diamante mais humilde?
A reação de Diamond a esses escândalos foi tipicamente arrogante: atacou as autoridades por sua “inapropriada” intervenção. Hoje o tom é mais humilde. Em sua carta de renúncia, Diamond indicou que sua motivação “foi sempre fazer o melhor pelo Barclays” e que “estava profundamente decepcionado pela impressão criada pelos fatos da última semana”.
Seu comparecimento perante o comitê parlamentar nesta quarta-feira será seguida com lupa pelos britânicos, hoje tão fartos dos banqueiros quanto estavam fascinados antes da crise de 2008. No ano passado, Bob Diamond, recém-nomeado diretor executivo do banco, provocou um furor público ao declarar no mesmo comitê que havia chegado a hora de “virar a página e terminar com o ataque aos banqueiros que são indispensáveis para a marcha econômica de um país”.
É pouco provável que ele adote uma postura de confronto. Como costuma acontecer nestes casos, os deputados tentarão determinar em que medida os “traders” que alteraram os dados agiram por conta própria ou estavam cumprindo uma política do banco. O email que o Barclays divulgou na tarde desta terça-feira amplifica o tema. Nele, Diamond escreve a outros executivos do banco que o vice-presidente do Banco Central da Inglaterra, Paul Tucker, recebeu uma série de chamados do governo perguntando por que Barclays sempre apresentava uma estimativa da taxa Libor mais alto que o resto das entidades. “Tucker disse que não necessitávemos sempre ter uma taxa tão alta”, escreve Diamond.
A taxa Libor é chave para determinar a saúde das instituições financeiras e o valor de bilhões de dólares em transações em todo o mundo. Em meio à tormenta daquela época que beirou o apocalipse financeiro, poderia se inferir que o Banco Central buscava induzir essa política nas outras entidades, algo que o banco negou ontem enfaticamente. Com 17 bancos em três continentes e nove sistemas regulatórios nacionais participando da investigação, determinar o significado dessa intervenção do Banco Central pode ser crucial.
Impacto sobre a estratégia econômica
O escândalo deixa marcas também na cambaleante estratégia econômica da coalizão conservadora-liberal democrata. Com o Reino Unido em recessão, o governo do primeiro ministro David Cameron, que não quer recuar em sua estratégia de implementação de um ajuste radical, está impulsionando uma nova impressão de dinheiro eletrônico por parte do Banco Central que iria aos bancos privados para azeitar o crédito à produção e ao consumo.
A estratégia não é nova e o resultado, até o momento, duvidoso. O Banco Central imprimiu mais de 400 bilhões de libras (700 bilhões de dólares), mas segundo a pequena e média empresa britânica estes fundos servem para socorrer o balanço dos bancos e para emprestar às grandes empresas para que possam seguir apostando no cassino global. Se, no princípio da crise, em setembro de 2008, essa estratégia podia justificar-se porque a alternativa ao resgate bancário era a derrocada, agora que as entidades financeiras têm grandes lucros, seguem pagando grandes bonificações a seus executivos e continuam imersas em escândalos cada vez mais graves, é difícil que o governo possa oferecer um novo cheque em branco.
Tradução: Marco Aurélio Weissheime
Fonte: Carta Maior