Em um artigo escrito em 09/06/2021, abordávamos as lições que deveríamos aprender em relação ao processo que levou as forças populares peruanas ao comando do aparelho de Estado.
Pouco mais de um ano e meio se passaram, e aqui estamos nós uma vez mais tentando extrair ensinamentos das lutas travadas por nossos irmãos transandinos. Diferentemente do exposto no texto anterior, desta vez, as lições têm um sabor amargo. Porém, de todas as maneiras, são experiências valiosas que servem para nos educar e nos preparar para as dificuldades que o povo trabalhador brasileiro vai ter de enfrentar a partir da posse do novo governo.
A tristeza que nos causou a retomada do poder estatal pelos representantes da oligarquia pró-imperialista peruana em tão curto tempo contrasta com a euforia que externamos quando da retumbante vitória eleitoral de Pedro Castillo em 2021. No entanto, apesar da dor que sentimos, este aprendizado vai nos ser útil para evitar que venhamos a cometer erros similares por aqui.
A primeira grande lição que deveríamos assimilar é que a vitória eleitoral do campo popular está longe de se constituir no feito mais difícil a ser realizado para a construção de um mundo mais justo. Não resta mais nenhuma dúvida de que colocar em prática um programa governamental favorável às massas populares é tarefa muitíssimo mais complicada do que vencer uma eleição.
Sem organização, unidade e clareza de propósitos pode-se até chegar ao comando formal do governo, mas vai ser impossível implementar as transformações necessárias para favorecer as maiorias trabalhadoras de nosso país. A sustentação da gestão de Pedro Castillo dependia de um enorme leque de forças. Nenhuma delas tinha condições de liderar o processo político e pouca gente ali sabia com convicção que novo mundo se buscava construir. Por isso, era muito difícil resistir aos golpes sorrateiros desfechados pelos agentes a serviço das classes dominantes.
Neste momento em que, no Brasil, os simpatizantes dos interesses liberais integrantes da frente ampla de apoio ao governo de Lula reclamam da “excessiva” presença de petistas na composição do ministério que está sendo formado, convém que não nos esqueçamos desta vantagem que levamos em relação a nossos irmãos peruanos. Enquanto, por lá, não há uma única agrupação em condições de liderar o processo, por aqui, isto se dá porque o PT se consolidou como o principal partido na luta contra a reação da extrema direita neoliberal, e Lula é reconhecido por todos como o grande líder para encabeçar a luta.
Em vista da importância simbólica que têm os acontecimentos recentes no Peru, com a deposição do presidente Pedro Castillo e a volta das forças reacionárias ao domínio do aparelho do Estado, o vídeo documentário do link é de grande valor didático. Vale a pena dedicar alguns momentos de nossa atenção a este material para que possamos compreender em plenitude os erros e acertos populares cometidos no Peru e, com isso, avançar com mais firmeza na rota que nos conduzirá a um mundo melhor e mais justo.
Para que o vídeo possa ser visto e entendido por um maior número de brasileiros, fiz sua tradução ao português e elaborei as respectivas legendas. Tenho certeza de que o mesmo vai ser de muita utilidade para todos os que almejamos usar nossa capacidade intelectual e de ação em favor das maiorias trabalhadoras de nosso país.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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