Crescem as articulações de bastidores para afastar Temer a partir do dia 2 de janeiro e, através de eleições indiretas, colocar Nelson Jobim. É preciso ficar alerta para os riscos de antecipação da classe dominante- Ricardo Gebrim.
Florestan Fernandes nos alertava sobre a capacidade antecipatória de nossa classe dominante. Esta é uma peculiaridade presente em tantos episódios históricos decisivos, como na proclamação da independência, na abolição da escravatura combinada com a “Lei de Terras”, na constituição da República e mesmo no golpe de 1964, que veio antes do início das anunciadas reformas de base. Sem falar da estratégia da “abertura lenta gradual e segura” ao final da ditadura militar. Sem dúvida, essa habilidade antecipatória é uma característica que se afirma numa hábil capacidade conspiratória.
Semana passada, uma notícia passou quase desapercebida, limitando-se a colunas sociais. Os principais banqueiros que operam em nosso país encontraram um tempo em suas concorridas agendas para um jantar com o ex-ministro Nelson Jobim, atualmente conselheiro do BTG Pactual.
Não é um incidente casual. Nem a mais poderosa greve bancária teria a força de reunir tantos banqueiros. Crescem as articulações de bastidores para afastar Temer a partir do dia 2 de janeiro e, através de eleições indiretas, colocar Nelson Jobim como o novo gerente do golpe.
Evidente que não será uma jogada simples. Temer não facilitará essa movimentação. Um impeachment exigiria um longo período, trazendo incertezas econômicas indesejáveis. Até mesmo uma eventual cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral possibilitaria um recurso ao STF, com impactos arriscados. O ideal para os conspiradores do “golpe dentro do golpe” é a renúncia. Fragilizado pelas recentes denúncias, elevarão ao máximo as pressões para que Temer renuncie. Apostam que cada vez é mais fácil encurralá-lo.
Necessitam realizar toda essa movimentação sem abalar a votação da Reforma da Previdência, ofensivas contra os direitos trabalhistas, esvaziamento do BNDES e Petrobras. Ou seja, não podem atrapalhar a implementação do programa neoliberal que unifica o conjunto dos setores econômicos que patrocinam o golpe.
Eleições indiretas
Assim como em 1964, o golpe começa a “devorar seus filhos”. Desta vez, o aparato principal do Estado não são os militares. Estes, vez por outra seguem fazendo “alertas” em tom de ameaça, como a entrevista do General Romulo Bini Pereira em artigo publicado no Estado de S. Paulo. Mas, já não cumprem o papel central no atual roteiro. Desta feita, o ator principal é o “Partido Lava Jato”, formado por policiais federais, membros do ministério público e juízes, que podem oferecer o ‘Estado de Exceção”, tão necessário para aplicar o conjunto de medidas impopulares em curso.
Um governo Nelson Jobim, ou outro que venha a ser escolhido pelas forças econômicas para ser ungido nas “eleições indiretas”, tentará se afastar de todo o desgaste acumulado em 2016, buscando recompor forças, desvincular-se da imagem de corrupção, dando seguimento às privatizações e medidas neoliberais, mas preparando as condições para a continuidade política do golpe.
É sintomático que ante todas as denúncias oferecidas pela delação da Odebrecht, a grande mídia concentre sua repercussão na notícia de que “Lula virá réu pela quinta vez em três operações diferentes”. Para o golpe cumprir seu roteiro, precisam inabilitar Lula, ainda em 2017, para que não concorra nas eleições presidenciais.
Que Florestan nos ajude mais uma vez neste momento. É preciso manter nossa intransigência. Somente eleições diretas podem devolver a soberania popular. Assim como vampiros não suportam a luz do sol, golpistas fogem das urnas.
Fonte: Controvérsia.