Notas sobre as eleições ou sobre porque votarei na Dilma

Elaine Tavares
Elaine Tavares

Por Elaine Tavares.

O PT não é um partido que representa o comunismo, nem mesmo o socialismo. Dizer isso é, ou estar mal intencionado, buscando criar um medo infundado nos conservadores e nos ingênuos, ou ser um completo ignorante sobre o que sejam esses sistemas políticos. Talvez lá nos seus primórdios, o PT tenha flertado com a proposta do socialismo, que é uma proposta generosa de organização da vida, na qual todas as pessoas poderão ter acesso aos bens produzidos coletivamente, bem como participar de forma direta das decisões sobre suas vidas.

Há quem diga que o PT busque atuar tal como Cuba ou Venezuela. Outra ignorância completa sobre a realidade. Cuba é um sistema político baseado nos pressupostos socialistas, com uma forma de organização do estado bem diferente da forma liberal, tal qual a que temos nos países do bloco ocidental. É um país em guerra desde há mais de 60 anos e, portanto, sem conseguir realmente instituir uma forma acabada de socialismo. Afinal, está sempre enfrentando alguma ameaça militar ou econômica, basta ver o embargo que sofre há 50 anos. Logo, o modelo cubano é o modelo cubano, com suas belezas e mazelas. Nunca poderá ser transplantado para o Brasil, até porque as condições que gestaram a revolução cubana são totalmente diversas das que temos hoje no país.

O PT tampouco vai atuar como o governo de Hugo Chávez que, na Venezuela, apontou para uma proposta socialista, sem ter conseguido chegar sequer à porta de um sistema assim. Ao longo dos 13 anos que ficou no poder Chávez conseguiu inverter algumas prioridades, instaurar políticas públicas de distribuição da renda do petróleo, fazer brotar uma nova Constituição, construir um processo de participação popular, mas, acossado pelos ataques da elite interna e dos inimigos externos ( leia-se EUA), praticamente não conseguiu avançar muito nas questões estruturais. Precisou enfrentar momentos de instabilidade, um golpe cívico-militar e sucessivos entraves de toda ordem. Ainda assim, avançou naquilo que chamou de “revolução bolivariana”, também um processo genuinamente venezuelano, de profunda participação popular. Impossível pensar em instaurar aqui no Brasil algo semelhante. Faltar-nos-ia um dirigente com cultura revolucionária, com compreensão da luta pela Pátria Grande e também um povo grávido de desejos de integração latino-americana, de soberania e liberdade. Não estamos nesse nível.

Assim, qualquer “acusação” sobre essas possibilidades revolucionárias do PT soam completamente sem base. Como já disse: ou má fé ou ignorância.

O PT nasceu com a proposta de ser uma alternativa classista, brotando do fundo da luta dos trabalhadores, mas com o passar do tempo foi adquirindo uma forma social-democrata. Logo, distanciando-se a cada dia de uma proposta socialista. A social-democracia, grosso modo, é um sistema que propõe uma forma de governo representativa, que não se desvincula do poder econômico dominante, logo, as forças com mais recursos são as que dominam os postos de representação. Também propõe a constituição de políticas públicas que atenuem as diferenças num processo lento de melhoria para as classes menos favorecidas. Sem maiores rupturas institucionais. Sem grandes transformações estruturais. Fez história com o seu Estado de bem estar social, típico de países europeus, coisa que funcionou por algum tempo, mas que hoje faz água. Ainda assim, mesmo no Estado de bem estar social, sempre há os excluídos. Ou seja, as políticas não servem à emancipação real das pessoas. Seria algo assim como uma tentativa de “humanizar” o capitalismo. Ou seja, preserva-se a lógica do capital, de exploração dos trabalhadores, de primazia para os endinheirados, mas ampliam-se as políticas públicas para os pobres.

É isso que o PT é hoje. Um partido que, para garantir governabilidade, abandonou seu caminho socialista, aliou-se a grupos de alto poder econômico, fez acordo com a elite. Mas, por sua característica social-democrata, também dividiu uma parte -pequena- do bolo com os empobrecidos. Tirou milhões da miséria, proporcionou alguma melhora no sistema educativo, criou universidades, investiu na cultura, enfim, fez coisas que os governos de estrato conservador jamais fizeram. E justamente não o fizeram porque governos como o do PSDB, de Fernando Henrique, e agora de Aécio Neves, não são sociais-democratas, embora essas palavras estejam no seu programa. E não são sociais-democratas justamente porque não concedem qualquer coisa às classes subalternas. Não estão preocupados em diminuir o fosso entre pobres e ricos, não se importam se milhões morrem de fome. Estão no poder para servir a um pequeno grupo que conforma a elite local.

Então, para que fique claro: Socialismo não é social-democracia. E social-democracia não existe nos governos conservadores. O socialismo não quer diminuir diferenças entre pobres e ricos, quer acabar com ela. É um processo radical. A social-democracia atende também aos ricos, mas busca atacar problemas pontuais das classes menos favorecidas. E os conservadores só cuidam de suas vidas e dos seus aliados.

Então, dito isso, chega-se a seguinte conclusão. O segundo turno das eleições brasileiras não oferece ao povo brasileiro nenhuma opção socialista. Não há, em nenhuma das candidaturas qualquer possibilidade de um sistema de governo assim. Nem socialista, muito menos do tipo cubano ou venezuelano. Não temos essa opção.

A opção que hoje está posta é a social-democracia petista ou o conservadorismo radical do PSDB. O PSDB é o atraso rotundo, é o consolidação de um projeto que -de saída- exclui milhões de brasileiros, os pobres, os trabalhadores. Não há propostas reais para eles. Nenhuma. O PT é o que temos visto. Um governo a serviço do capital, mas com cores sociais-democratas, com o desejo sincero -eu creio- de “melhorar” a vida da maioria empobrecida, ainda que esse desejo se expresse em políticas danosas como a de incentivo ao crédito, que engorda os bancos, ainda que coloque dentro das casas da classe média baixa os bens de consumo que, antes, eram apenas objeto de desejo .

Esse é o quadro.

Para mim, que sonho com uma forma de organização da vida que não apenas “melhore” a vida das gentes, que acredito firmemente na necessidade de derrotar o projeto capitalista, que é opressor, explorador e assassino, o projeto do PSDB é impensável. Ele é a expressão acabada de tudo aquilo contra o que eu luto desde os 12 anos de idade quando comecei a entender a política.

O projeto do PT tampouco me é suficiente. Longe está dos meus desejos. Mas, diante do quadro eleitoral -que é um momento da conjuntura- não é possível permitir qualquer passo atrás. Por isso, nesse segundo turno, meu voto vai para a senhora Dilma Roussef. Não está aqui colocada nenhuma condição. Sei o que é seu projeto, o conheço profundamente e tenho feito a critica sistemática desde o terceiro mês do governo Lula, quando iniciou a reforma da previdência. Mas, entre o conservadorismo radical e a social-democracia petista não há como ter dúvidas.

Votar no Aécio por “raivinha” do PT não me parece um argumento válido para um ser político. Ao PT e sua política temos de fazer a crítica e a oposição. Mas, o PSBD e seu atraso, temos de varrer da história. Logo, a opção eleitoral é o 13.

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