Na manhã desta quinta-feira (03), a psicóloga e diretora de Recursos Humanos da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura (CPCC), Lívia Monte, recebeu uma ligação de Celso Ramos Martins, um dos coordenadores gerais do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina (SINTUFSC). Tratava-se da reserva do salão de festas da sede do Sindicato, efetuada em 10 abril, por uma filiada ao sindicato ha cerca de 33 anos para realizar a 1ª Festa dos Bocas Marditas, evento promovido pela CPCC, cujo carro-chefe é o portal Desacato.
Nesta ligação, o representante do SINTUFSC alegou que “esse tipo de evento não poderia ser realizado naquele local”, sem apresentar justificativa plausível para tal proibição. Celso ainda alegou que a festa não poderia comercializar bebidas e que não poderia haver som, acusando a cooperativa de sublocar a sede – o que não condiz com a verdade. Sabe-se que o espaço é utilizado com freqüência para eventos semelhantes, inclusive com venda de bebidas. Apesar disso, a organização da festa concordou com os termos colocados pelo representante do Sindicato, que ainda assim insistiu na proibição, tratando nossa colega com desrespeito. Logo depois, a cooperada e jornalista Rosangela Bion de Assis, entrou em contato com Martins e ouviu dele que o cartaz do evento “denegria” o nome de toda direção do Sintufsc.
Ainda nesta quinta-feira, o SINTUFSC publicou em seu site e em seu blog uma nota de esclarecimento (abaixo), em que se diz surpreendido pela distribuição de cartazes que divulgavam a festa. A nota também diz: “Como já é do conhecimento dos sindicalizados, o regulamento interno do Sintufsc não permite esse tipo de evento motivo pelo qual foi cancelado”. A atual diretoria do sindicato, contudo, não explicou o que seria “esse tipo de evento” e onde consta no regulamento que essa festa não poderia ser realizada. Os atuais dirigentes deste sindicato não comunicaram previamente a cooperativa e negaram qualquer possibilidade de negociação entre as partes, prejudicando moral e financeiramente os compromissos assumidos com parceiros e pessoal contratado.
A festa promovida pela CPCC tem como objetivo celebrar com parceiros, cooperados e apoiadores a nova fase do portal Desacato.info. O portal, fundado em 2007, tem uma média de uma visita a cada sete segundos e preocupa-se especialmente com a informação que não costuma ser publicada na mídia monopólica. A pergunta que fica é: por que a celebração deste compromisso do Desacato com a sociedade incomoda o Celso Ramos Martins e o SINTUFSC?
O que poderia incomodar os atuais dirigentes do SINTUFSC?
A apresentação do documentário Fibra sobre a 1ª Cooperativa brasileira de deficientes intelectuais? A apresentação de Olorum, último livro do escritor e jornalista Raul Longo? A contação de histórias da profa. Bel Gomes? Uma banda de rock constituída por estudantes universitários? A rifa de um quadro de operários italianos em marcha, no início do século?
Ao arrematar que não pode permitir esse “tipo de evento”, de que evento fala? Que evento imagina o senhor Celso Ramos Martins, do Sintufsc?
É estranho que, depois de várias semanas de acordo, surja de maneira repentina esta decisão. Os trabalhadores do Sintufsc que nos conhecem sabem da coerência das nossas ações voltadas à classe trabalhadora e estudantil. Temos transmitido ao vivo eventos, homenagens e ações da classe trabalhadora e pretendemos continuar com isso. Acaso esse é o problema do senhor Martins e do SINTUFSC?
É mais rara ainda essa atitude quando o Desacato, em conjunto com a Revista Pobres e Nojentas, realizou confraternizações culturais nesse espaço anos atrás. O que mudou então?
Nesta hora, afirmamos nosso compromisso institucional, profissional e de princípios com os trabalhadores, estudantes, minorias e os discriminados de toda índole.
Faremos esta festa outro dia, em outro local, sempre com o mesmo objetivo: saudar a comunicação livre e os trabalhadores e estudantes. O público trabalhador merece transparência, por isso esperamos que o senhor Celso Ramos Martins esclareça publicamente de que tipo de evento fala.
Conselho Administrativo da CPCC
Esse texto foi elaborado também em resposta a seguinte nota, publicada nesta quinta-feira, pelo SINTUFSC:
Que fiasqueira… O Sindicato nos cobre de vergonha…
Visivelmente “pessoal”, já que cansei de ir a festas no SINTUFSC em que eram comercializadas bebidas & comidas.
Chegou a nossa redação o seguinte comentário de Raul Longo:
A DITADURA VIVE!
E está presente na Universidade Federal de Santa Catarina
Raul Longo
Éramos quase adolescentes. Já considerados jovens, secundaristas da UBES de São Paulo – Capital, fomos convidados pelo CPC a apresentar em Brasília a peça teatral “O Jogo da Verdade” de autoria coletiva do nosso grupo.
Nosso entusiasmo e muitos de nossos talentos foram ceifados pela promulgação do Ato Institucional nº 5. O ano, 1968. O governo do Marechal Arthur da Costa e Silva
Marechal de mentirinha, pois pelos cânones das Forças Armadas internacionais “o posto de marechal é uma dignidade honorífica apenas atribuída aos generais com uma relevante folha de serviços em tempo de guerra” (Wikipédia). A única “guerra” de que Costa e Silva participou, poucos anos antes, foi contra os estudantes nordestinos.
Mas a mentira do mais longo 1º de Abril da História continua assombrando o país quase 5 décadas depois. Tiranetes de República das Bananas, arrojando-se poderes a eles inadvertidamente atribuídos por grupos escusos ou eleitos por turbas mantidas no anacronismo, na ignorância da responsabilidade da atual projeção do Brasil perante o mundo, e da realidade de todo o mundo contemporâneo onde multidões tomam os espaços públicos em prol da liberdade e da conquista de direitos populares em movimentos como a “Primavera Árabe” ou o “Occupy Wall Street”; se esforçam por retroceder as mentalidades mais promissoras de cada cidade, de cada comunidade, de cada instituição do país. Querem nos regredir ao medievalismo inquisitorial.
Demonstrações claras da persistência do obscurantismo da ditadura, a despeito da democracia com que o atual governo brinda seus mais assíduos e acirrados detratores da mídia, aberta e tendenciosamente promotora de interesses do crime organizado nacional e internacional, surgem até mesmo entre instituições e ambientes que deveriam primar pela proposição de um mundo mais tolerante, mais livre e transparente, em conformidade com os anseios expressos pelas populações da atualidade em todos os continentes.
Vergonhosamente, em Santa Catarina se vai na contramão da história no interior de instituições que deveriam estimular seu avanço, promover seu direcionamento ao futuro.
Uma vergonha não apenas para toda a Universidade Federal e o estado, mas também para o MEC e toda a Federação brasileira, a nota abaixo identifica o gérmen do fascismo entre aqueles que se dizem profissionais de uma instituição de ensino superior, enxovalhando a história da redemocratização do Brasil e reportando-nos aos piores momentos da ditadura.
Óbviamente é um ato de censura política de parte do Sintufsc. Um lamentável retrocesso em se tratando de uma entidade sindical.