
Por Pablo Mucelini, de Chapecó Crítica.
No entanto, enquanto os números impressionam, a realidade dos trabalhadores conta uma história diferente. Funcionários relatam humilhações, assédio moral e condições de trabalho que contrastam com o sucesso empresarial.
Nesse sentido, trabalhadores da unidade da Bauer Express em Chapecó procuraram a Chapecó Crítica para denunciar uma série de irregularidades. Entre as principais reclamações estão atrasos recorrentes no pagamento de:
- Salários
- Décimo terceiro
- Vale-alimentação
- E até mesmo no vale-transporte
Além disso, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) tem se tornado uma verdadeira incógnita, com constantes incertezas sobre os depósitos. No entanto, o que mais revolta os funcionários não é apenas a falta de compromisso com esses direitos, mas a postura da empresa, que insiste em manter as aparências, como se nada acontecesse.
Atrasos, incerteza e assédio
Maria* lembra com indignação um episódio ocorrido em fevereiro de 2024, quando os salários estavam atrasados ??há alguns dias – uma situação que, segundo ela, era recorrente. Na ocasião, funcionários foram surpreendidos por uma cena inusitada: membros do setor de Recursos Humanos teriam percorrido a matriz cantando Tempo de Alegria, de Ivete Sangalo.
“Não esqueço de uma gestora me olhando e pedindo para levantar e bater palmas, foi muito humilhante”, relata a funcionária. Para os trabalhadores, a atitude é considerada um deboche diante das dificuldades enfrentadas, reforçando a sensação de desrespeito e descaso por parte da empresa.
Segundo eles, os atrasos nos pagamentos começaram de forma esporádica, mas se tornaram cada vez mais recorrentes, a ponto de fazer parte da rotina. Diante dessa incerteza, muitos já pensam em deixar a empresa.
João* é um deles. Recém-chegado à Bauer Express, ele já decidiu que não ficará por muito tempo. “Não tem como ficar aqui. Atrasa todas as contas, acaba se endividando. Todo mês é uma preocupação”, desabafa.
Fernanda* vive essa realidade há ainda mais tempo. Contratada em 2024, ela recebeu o salário na data correta apenas uma vez. “O pior é que você trabalha, se esforça, mas nunca sabe quando vai receber”, relata. A funcionária conta que em janeiro de 2025 precisou renegociar contas em atraso, já que o salário foi depositado após as datas de vencimento.
Isso demonstra que a instabilidade financeira causada pelos constantes atrasos afeta não só o orçamento dos trabalhadores, mas também seu bem-estar e qualidade de vida. Sem previsibilidade, muitos enfrentam dificuldades para honrar compromissos essenciais, como aluguel, alimentação e outras despesas básicas.
“FGTS só na justiça”
Entre os diversos funcionários ouvidos pela Chapecó Crítica, nenhum afirmou estar recebendo o Fundo de Garantia em dia. “FGTS Só na Justiça”, resumiram todos. Para eles, até algum tempo atrás a empresa ainda realizava alguns depósitos, mas de forma seletiva.
Hoje, para ter acesso ao Fundo, os funcionários relatam que precisam enviar um e-mail justificando a solicitação, ficando sujeitos à decisão do RH sobre o pagamento. Em alguns casos, afirmam receber respostas negativas, com a justificativa de que os recursos estão sendo direcionados para “coisas mais importantes”.
Além disso, os trabalhadores afirmam que, ao questionarem os atrasos por e-mail, recebem as respostas por ligação. Segundo eles, essa prática dificultaria a formalização das reclamações, já que evita registros escritos que poderiam ser utilizados como prova em eventuais processos trabalhistas.
Perseguição e retaliação?
Em julho de 2024, uma funcionária decidiu manifestar sua insatisfação de forma anônima no “Mural de Ideias” da empresa, deixando post-its cobrando o pagamento dos atrasos. (vide foto)
No entanto, em vez de responder às reivindicações ou buscar uma solução, a gestão da Bauer em Chapecó teria iniciado uma investigação interna, revisando imagens de câmeras e realizando interrogatórios para identificar o autor da mensagem.
Segundo relatos, a empresa deixou claro que qualquer funcionário que reclamasse da situação poderia ser demitido, criando um ambiente de intimidação.
Em abril e junho do mesmo ano, alguns motoristas da Bauer no Rio Grande do Sul tentaram organizar greves como forma de pressionar a empresa a regularizar os pagamentos. Durante esses protestos, chegaram a usar os caminhões para bloquear depósitos da empresa.
No entanto, diante de ameaças e promessas não cumpridas, segundo os trabalhadores, o movimento foi desmobilizado, e os atrasos persistiram.

Palavra da empresa
De acordo com os trabalhadores ouvidos pela Chapecó Crítica, a empresa mantém o mesmo argumento: “dificuldades financeiras”. No entanto, os funcionários alegam que esse esse argumento diverge do histórico recente da Bauer Express.
Há dois anos, a companhia comemorava sua expansão acelerada na região Sul, anunciando a abertura de novas lojas e o crescimento das operações. Para os funcionários, porém, essa expansão tem um custo alto — e ele vem sendo pago com salários em atraso e benefícios comprometidos.
A Chapecó Crítica entrou em contato com a Bauer Express por telefone, mas foi orientada a solicitar a demanda via e-mail. A empresa, por sua vez, respondeu o correio eletrônico em poucas linhas, por meio de sua advogada: “Em que pese terem ocorrido alguns atrasos esporádicos em pagamentos, a empresa nunca deixou de quitar as verbas trabalhistas de seus colaboradores.”
Palavra do Sindicato
Em resposta à Chapecó Crítica, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Chapecó (Sintroc), que representa a categoria, afirmou que entrou em contato com a empresa, a qual se comprometeu a regularizar a situação. O sindicato também informou que está acionando as autoridades competentes para realizar a devida fiscalização.
No entanto, entre os trabalhadores ouvidos, a maioria afirmou desconhecer a existência do sindicato da categoria. Alguns mencionaram ter buscado ajuda em ocasiões anteriores, mas desistiram devido à falta de retorno.
Palavra do Ministério do Trabalho
Para entender como os trabalhadores devem agir diante das situações relatadas de assédio e demais violações de direitos trabalhistas, a Chapecó Crítica entrou em contato com o Ministério do Trabalho por meio do Auditor-Fiscal e chefe do Setor de Inspeção do Trabalho, Geraldo Ismael Bays. Confira a entrevista na íntegra:
CC: O que a legislação trabalhista prevê sobre atrasos salariais recorrentes? Existe um limite de tempo para que um atraso seja considerado ilegal e quais são as penalidades para a empresa? Auditor-Fiscal do Trabalho: o prazo é o quinto dia útil, não cumprido, já é cabível uma penalidade administrativa. As multas não garantem o pagamento – a empresa segue em atraso, nova punição somente no mês seguinte. O valor é baixo, 167 reais por empregado. Muitas empresas simplesmente não pagam essas multas, deixando cair em cobrança judicial pela Procuradoria da Fazenda Nacional, que pode parcelar em 60 meses.
CC: Como um trabalhador pode comprovar um caso de assédio moral, especialmente quando as intimidações ocorrem verbalmente ou sem registros formais? Ele pode gravar as conversas sem avisar a empresa?
Auditor-Fiscal do Trabalho: recomenda a Cartilha do MPT: “Pode-se provar a prática do assédio moral por meio de bilhetes, cartas, mensagens eletrônicas, e-mails, documentos, áudios, vídeos, registros de ocorrências em canais internos da empresa ou órgãos públicos. Também é possível provar por meio de ligações telefônicas ou registros em redes sociais (Facebook, Instagram, Whatsapp e outros…) e testemunhas que tenham conhecimento dos fatos”; “Admite-se a gravação de conversas ou imagens por um dos envolvidos no ato – interlocutor – ainda que sem o conhecimento do agressor.”
CC: Caso um funcionário tenha contas vencendo e sofra prejuízos financeiros devido ao atraso do salário, ele pode exigir indenização da empresa? Como esse pedido pode ser fundamentado juridicamente?
Auditor-Fiscal do Trabalho: como orientado acima, com 3 meses de atraso salarial já pode acionar a rescisão indireta, com cópia dos recibos ou comprovantes bancários do atraso. Ou testemunhas, colegas ou ex-colegas. O processo é judicial, então somente um advogado trabalhista pode orientar melhor.
CC: Se um empregador condiciona o pagamento do FGTS a um pedido formal do funcionário e decide arbitrariamente quem recebe e quem não recebe, isso configura uma infração trabalhista? Quais medidas podem ser tomadas nesse caso?
Auditor-Fiscal do Trabalho: o não pagamento do FGTS enseja punição administrativa (multa) e levantamento do débito. Os débitos não pagos são cobrados pela PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL. Como dito, também é possível a rescisão indireta, por atraso superior a 3 meses. Não se deve pedir demissão.

C.C: Quando um sindicato parece ineficaz ou distante dos trabalhadores, existe alguma forma legal de pressioná-lo para agir de maneira mais ativa? O trabalhador pode buscar outros meios de representação?
Auditor-Fiscal do Trabalho: não entendemos como ineficaz um Sindicato. Se nem a ação do MTE é eficaz, menos capacidade de resolver tem o Sindicato, que só pode dialogar e solicitar o cumprimento da Lei. Nosso poder termina na multa, e não temos como mudar o caráter de qualquer empregador, ou a sua capacidade de bem administrar seus negócios. Muitos entendem que sai mais barato não cumprir a Lei, e fazer acordos na Justiça. Os outros meios, como dito, são denunciar ao Ministério Público do Trabalho, e ou mover ação judicial, na Justiça do Trabalho.
A orientação, portanto, é que todos os trabalhadores que se sentirem lesados busquem auxílio profissional de um advogado particular ou mesmo na defensoria pública, que em Chapecó está situada na Rua Pará, 53D, bairro Maria Goretti.
Relatos extra oficiais dão conta de que a empresa decidiu quitar algumas obrigações em atraso após as denúncias e apuração da Chapecó Crítica.
*Todos os nomes são fictícios para preservar a identidade dos funcionários
Bauer. Sobrenome de família sem tradição no trabalho. São políticos . Políticos sempre ligados a tudo o que não presta. Paulo Bauer é o responsável pela destruição da biblioteca da secretaria de estado da educação. Por ex…
Essa empresa é medíocre simplesmente me quebrou e não me paga eu era agenciador e parceiro deles.
Fiquei durante mais de ano recebendo em atraso e tendo que pagar meus funcionários, alugueis,em outras dividas eles trabalhando com meu dinheiro.
Simplesmente me devem dês do ano passado por serviços que realizava para eles.
E não dão uma solução.
Vale ressaltar que acontece em todas as unidades da Bauer!
Se você cobra o financeiro, eles já vem com 10 pedras na mão, super mal educados, o dono da empresa nem se fale, o cara nem tem coragem de assumir a responsabilidade ou dar as caras, enrola todo mundo!
Isso pra mim é má administração! pra onde vai todo esse dinheiro? tinha era que investigar tudo!
Se cobra gerente, ele passa pano pro erro. Sair dai foi um livramento! Não é justo que tenhamos que pagar multas de atraso nas nossas contas, e eles não pagam o que é de multas para eles.
Em janeiro fomos receber dia 15! Onde já se viu isso? Agora o bolso do dono tá cheio de dinheiro e o carrão dele com certeza deve estar quitado! Quem sofre é o pobre trabalhador!
Já até desisti do meu FGTS
Trabalhei na matriz da Bauer em Chapecó neste período de 2024. O departamento de recursos humanos sempre estava com essas atitudes, ridicularizado o funcionário. É uma pena que isso aconteça era uma empresa boa de se trabalhar, acredito que se demitissem o setor inteiro melhoraria muito. Acredito que o proprietário não esteja ciente do que está ocorrendo.
Vale ressaltar que essa situação ocorre também na matriz do Paraná