Por Fernando Brito.
Outro garoto negro foi morto numa ação policial injustificável, em meio ao terror de uma pandemia: uma invasão bélica na Cidade de Deus, justo no momento em que se distribuíam cestas básicas àquele povo abandonado por todos.
Mas viralizou na internet a explosão de revolta de um dos jovens que participava da ação humanitária.
E, junto a ele, outro, que o continha.
Não por covardia, por lucidez.
“Nós é preto, mano. Então se acalma! Você acabou de distribuir 200 cestas básicas, eu não vou te perder”.
É desta matéria que se forja uma liderança: sem deixar de sentir, saber que é preciso saber como e onde travar a luta.
Obrigado, garoto, por me deixar sentir que tudo valeu a pena, todas as injustiças, as incompreensões, ver que todo o enfrentamento de uma vida inteira estão aí, vivos e fortes em você e em sua lucidez.
Seria tudo inútil se não houvesse garotos como você mostrou ser: um homem de pé, tão grande que não deixa a revolta virar loucura, mas ser mais vontade de lutar.
Era comum, nas suas falas, Brizola usar a expressão “meu irmão e minha irmã”.
Nos dias de hoje, acho que ele, em lugar disso, diria: “obrigado, mano”.
“A gente nasceu alvo. A gente nasceu alvo. João Pedro foi ontem.
Eles são genocida e nos somos alvo do estado, mano! Nós é preto mano.”
Ouça esse diálogo…Mais uma morte nas favelas do Rio
João Vitor, 18 anos, Cidade de Deus pic.twitter.com/ZCvYz5IDy0— Joe Luiz (@joelluiz_adv) May 20, 2020