Por Vanessa Ibrahim, jornalista.
“Rosas vermelhas são troféu de prostituta”. A memória das palavras ouvidas ecoam do passado e vem à tona em 8 de março, quando polvilham pelas redes mensagens repletas de flores. Vermelhas, cor-de-rosa, impregnadas do ranço da fragilidade e sensualidade que se esperam da mulher, mas que não cabem em todos os corpos. Ainda assim, escolho as pétalas para o vaso à mesa frente à hipocrisia das “pessoas da sala de jantar”, que colocam o assediador para sentar – sempre na cabeceira. Elas que lutem por uma cadeira de representatividade, talvez aquela destinada a cumprir cota.
Na mesa do trabalho, o homem progressista felicita as mulheres e homenageia sua “ajuda”. Mas dita as regras de conduta no pedaço de papel que entrega à mulher, puxando-a pelo braço, subjugando-a eternamente a secretariá-lo e estar à disposição do seu contato físico. Cheia de boas intenções, ela se apega tanto ao recado que até pensa ser seu, as mesmas palavras saem de sua boca, mas nunca serão suas.
Não se trata de querer tirar as mulheres daquelas cadeiras que tanto escalaram para poder sentar, colocá-las em seus “devidos lugares”, à espera do buquê de recompensas que virá após dar ou alimentar. Ou uma bela caixa de bombons recheados de fel e embalada para presente com a bandeira da pátria. Embora, contraditoriamente, ali ao menos por um dia, nelas não se bateriam “nem com uma flor”. Mas seguimos no espancamento diário ao que o corpo feminino é submetido: de cabo a rabo, torto a direito, direita a esquerda.
Virem a mesa, mulheres. Em lugar da távola, sentem ao chão e não soltem as mãos. Essa é a única forma de sentir a dor da outra e girar a roda da história a nosso favor. As rosas poderão vir, desde que se saiba segurar pelos espinhos e com eles lutar.
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