Por Clarissa Peixoto.
Queria escrever uma coisa bem calhorda, pensei num conto, num canto, num pranto. E tudo desaguou aqui, em nada por dizer. Só alguma coisa por sentir, sem pátria, sem ânimo, sem nada. Sem lume, com certa honradez, com a menor, a bem pequena das complacências. O grito lá fora, o choro ali dentro e, por aqui mesmo, bem aqui, só uma sensação de calabouço. A leitura é triste. A sonoridade patética e a irritação de quem sentiu a noite cair sem ter o descanso sagrado. Uma pedra ao pescoço, um bicho encravado à pele dos pés. E nenhuma varinha de condão que dê valor as abóboras, aquelas mesmas que um dia, sim, um dia, se acomodarão na carroça, que andará lenta, mas caminhante para um futuro, de possíveis cores, de quase nenhuns amores. Nem brilho, nem fama. Somente o céu, ora estrelado, ora azul certeza, ora cinza de nenhuma das esperanças. Cavalgando, caminhando com pés falsos, voando por milharais de desilusão e alegria. Um dia há de encontrar um bálsamo, um solfejo, um pergaminho com motivos aos milhares para se estar aqui. Amanhecerá o dia em que tudo parecerá ter valido a pena, as penas de uma dor que não é minha, é nossa, é do mundo. Um dia, nesse dia, tudo valerá.