Estranha explicação arranjou a revista Veja, na sua edição do dia 26 de outubro próximo passado, para o fenômeno de público apresentado pelo Santa Cruz na Série D do Campeonato Brasileiro deste ano.
Só para se ter uma ideia, até aquela data, a Série A tinha uma média de público de 13.219 pessoas, enquanto na Série B essa média baixava para 5.610. Na Série D, onde a torcida coral desfilava a sua paixão pelo clube, a média era de 2.286 espectadores por jogo. Muito acima disso, o clube pernambucano ostentava uma média de 38.836 apaixonados torcedores, catorze vezes acima da média da sua série. Um fenômeno que passou a merecer uma atenção especial não só da imprensa esportiva brasileira como da imprensa esportiva mundial. Incompreensível para a revista, portanto, que um clube como o Santinha, perdido nos “grotões” do Nordeste pudesse ter mais público em seus jogos do que o Corinthias, em São Paulo, ou o Flamengo, no Rio de Janeiro.
Segundo a revista, é sociologuês barato querem atribuir às origens populares do clube a paixão exacerbada da sua torcida, já que hoje existem em suas fileiras torcedores de todas as camadas sociais. Segundo ela, é preferível beber da sociologia em busca de uma melhor explicação para o fenômeno. Valeu-se, para isso, das explicações do psicólogo mineiro Jacques Akerman, um estudioso do comportamento de torcidas de futebol. Segundo o psicólogo mineiro, uai, trata-se de um caso claro de masoquismo, que, afirma, tanto do ponto de vista individual como coletivo, seria uma forma de prazer. Afirma ainda, na sua condição de discípulo de Freud, que o apego da torcida a um clube, mesmo em seus piores momentos, encaixa-se na categoria psicológica do pertencismo, ostentando o discreto charme do eterno derrotado benquisto.
Considerando que de 2005 a 2010, o Santa Cruz só fez despencar no cenário desportivo brasileiro, a matéria faz até um paralelo entre a torcida coral e a torcida do Corinthias, que durante 23 anos, de 1954 a 1977, não viu o clube conquistar um título importante e se autodenominava sofredora.
Pertencismo ou não, masoquismo ou não, a teoria não chegou a abalar a paixão de Renato Boca-de-Caçapa, cachaceiro, filósofo e torcedor convicto da Cobra Coral. Ao tomar conhecimento da insólita teoria, em plena segunda-feira, na orla de Brasília Teimosa, entre um gole e outro daquela loura suada que desce suave e redonda, argumentou com desdém: “Pergunta a esse psicólogo de merda por que é que o Íbis, o pior time do mundo, e que até hoje não ganhou nem um campeonato de porrinha, não tem uma grande torcida. Ele e Freud que me desculpem, mas se essa teoria estivesse correta, o Mais Querido e o Clube das Multidões seria o Pássaro Preto de Santo Amaro, o clube da TSAP, e não o Santinha. Manda ele se lascar que eu vou é tomar mais uma”.