“Negros foram duplamente desaparecidos durante o Golpe Militar”, afirma o vereador Lino Peres

O representante da Comissão da Câmara e a assessora parlamentar e militante do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina (MNU/SC) Vanda Pinedo contaram à redação do Portal Desacato como foi o desenrolar das palestras do Milton Barbosa (um dos fundadores do MNU/SP) e do sociólogo João Carlos Nogueira, membro do Núcleo de Estudos Negros de Florianópolis.

Por Ana Carolina Peplau Madeira. para Desacato.info (Texto e fotos).

No dia 30 de novembro foi realizado o debate “Lideranças e participação Negra no período da Ditadura Militar”, no Plenarinho da Câmara de Vereadores de Florianópolis.  O evento fez parte das decisões das comissões de memória, verdade e justiça da Câmara de Vereadores, da Assembleia Legislativa e da UFSC.

O representante da Comissão da Câmara, vereador Lino Peres e a assessora parlamentar e militante do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina (MNU/SC) Vanda Pinedo contaram à redação do Portal Desacato como foi o desenrolar das palestras do Milton Barbosa (um dos fundadores do MNU/SP) e do sociólogo João Carlos Nogueira, membro do Núcleo de Estudos Negros de Florianópolis. Segundo o vereador Lino Peres, a maioria dos casos investigados de presos e desaparecidos no período da ditadura são de pessoas brancas.

“Queremos que investiguem também os negros que sofreram”, afirma o vereador. Dois casos lembrados no debate foram de catarinenses como o operário da indústria gráfica Hamilton Fernando Cunha e do servidor público Augusto Luiz Fernandes (pai do vereador chamado de Juninho Mamão). O operário foi assassinado em 11 de fevereiro de 1969 por agentes do departamento de Ordem Política e Social – DOPS, em São Paulo. Cunha nasceu em Florianópolis, no bairro Saco dos Limões e fazia parte da rede de apoio da organização Vanguarda Popular Revolucionária. O DOPS era um órgão criado para controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime militar. E o servidor público ficou afastado do trabalho por pertencer ao antigo Grupo dos 11, tidos como brizolistas.

“Foi muito bonito o debate. Pretendemos aprofundar a metodologia e acrescentar os mineiros de Criciúma e Tubarão”, comenta o vereador Peres. Entre as deliberações, estão convidar descendentes das vítimas da época para se pronunciarem sobre os fatos. As comissões querem documentar estes depoimentos. Como o racismo era mais forte na época, os negros sofreram e nada foi investigado, perpetuando a invisibilidade.  “Negros foram duplamente desaparecidos durante o Golpe Militar. Primeiro pelos militares, depois pela história”, afirma o vereador Lino Peres

A assessora parlamentar e militante do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina (MNU/SC) Vanda Pinedo lembra de catarinenses que ainda esperam pelas indenizações e anistias da época. As comunidades Quilombolas da época, de acordo com Miltão, como é conhecido Barbosa, se auto-organizavam economicamente e militavam a resistência negra. Sofreram mais e foram parar nas favelas, onde os esquadrões da morte consideravam a etnia como bandidos. Outro ponto importante é que metade da população carcerária do estado é de origem negra. Dos movimentos políticos surgiram a Frente Negra Brasileira e depois o Movimento Cultural, que abrange o Samba, o Olodum, Blocos de Carnaval, entre outros. “É uma característica do povo negro cantar, lamentar a dor em forma de música, dança, cultura”, ressalta Vanda Pinedo.

 

 

 

 

 

 

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