Por Luís Eduardo Gomes.
No final de julho, Porto Alegre voltará a ser palco de um encontro de diversas lideranças e representantes de movimentos sociais da América Latina. Entre os dias 27 e 29, ocorre em Porto Alegre o 2º Fórum Latino-Americano da La Poderosa, organização nascida em favelas da Argentina e que se estende por 96 comunidades marginalizadas do continente.
Participarão do fórum moradores e moradores de favelas e comunidades rurais, referentes de direitos humanos de todos os países onde está La Poderosa, referências do feminismo, comunicação e educação popular, dos povos indígenas, da economia popular. O fórum também contará com a participação de representantes de movimentos sociais urbanos e rurais, de sindicatos, organizações e partidos políticos da região. Ainda será disputado o Primeiro Campeonato Latino-Americano de Futebol entre jovens de favelas.
La Poderosa
A movimento La Poderosa surgiu em 2004, na favela de Villa Zavaleta, em Buenos Aires. Nasce originalmente como uma assembleia para organizar partidas de futebol do bairro que eram disputadas sem juízes, mas ainda sim precisavam de uma mínima organização. Do futebol popular, as assembleias passaram a discutir problemas de Villa Zavaleta, como solucioná-los e, se fosse o caso, como pressionar o poder público para resolvê-los. Hoje, a La Poderosa se estende por pelo menos 80 bairros populares argentinos e mais 11 países da América Latina (Brasil, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, México e Cuba). O nome La Poderosa é uma referência à motocicleta com a qual Che Guevara e Alberto Granados viajaram pela América do Sul.
Legalmente constituído como uma associação civil sem fins lucrativos, atualmente o movimento adota um modelo de organização apartidário que busca realizar assembleias semanais autônomas em cada bairro e favela que está organizado com o objetivo de encontrar soluções para os problemas locais, sempre por consenso e não por votações em que uma opinião majoritária predomina sobre as demais.
O movimento passou a se expandir para outras favelas e da Argentina, Brasil e América Latina, estando presente em 10 países. Em Porto Alegre, a organização está começando a se articular com moradores de áreas popular do bairro Menino Deus e arredores. No Rio De Janeiro, está na favela de Santa Marta e também está chegando a Niterói. A ideia é estar presente nas regiões mais marginalizadas do continente.
Anualmente, é realizado um fórum nacional na Argentina e, no ano passado, foi realizado o primeiro fórum latino-americano em Havana, Cuba, que contou com representações das favelas e bairros em que a La Poderosa atua. Para este ano, Porto Alegre foi escolhida para sediar o fórum em razão da “preocupante situação que assola ao povo brasileiro e que põe em xeque o que aconteça não só nesse país, mas na região toda”.
O Fórum
As atividades da 2ª edição do fórum latino-americano iniciam na manhã do dia 27, com o recebimento de cerca de mil integrantes argentinos do movimento que vem para a Capital. Durante a tarde, ocorrerá um ato de abertura do fórum e que também marcará o aniversário da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL), que completaria 39 anos na data.
No dia 28 e na manhã do dia 29, serão realizadas 28 atividades e palestras, que contarão com a presença de referências internacionais de Direitos Humanos, como o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, a mãe da Praça de Maio Nora Cortiñas e diversas outras personalidades. O pré-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, está confirmado. Aguarda-se ainda a confirmação de nomes como a ex-presidente Dilma Rousseff, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o jornalista e sociólogo espanhol Ignacio Ramonet.
Também serão realizados encontros entre comunicadores populares e a mídia alternativa de diversos países da América Latina, como os veículos brasileiros Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Brasil de Fato e o argentino Página 12. A própria La Poderosa produz uma revista mensal, criada há sete anos e escrita pelos próprios moradores de bairros e favelas e que aborda temas políticos e sociais referentes às comunidades. A edição desse mês, curiosamente, traz como matéria de capa uma entrevista com Guilherme Boulos.
Os locais das palestras do Fórum ainda estão indefinidos, mas devem ocorrer na Casa do Gaúcho, no Parque Harmonia, e proximidades. Paralelamente ao fórum, haverá uma Feira da Economia Solidária comercializando produtos das favelas representadas no evento. Na tarde do dia 29, o Fórum será encerrado com um evento cultural reunindo apresentações musicais e artísticas dos países envolvidos.
A expectativa é que 3 mil pessoas, vindas da Argentina, outras cidades do Brasil e da América Latina participem do Fórum, com alojamentos previstos para sedes de sindicatos, escolas e outros locais. A alimentação dos participantes ficará a cargo dos movimentos de produtores rurais e cooperativas.