Por Claudia Weinman, de Florianópolis, para Desacato. Info.
Quando se caminha no meio das gentes, é possível perceber que olhar de cima é nada. Que a classe trabalhadora explorada custou muito a ter um pedaço de pão com açúcar na mesa para partilhar com a família. A mobilização deste 18 de março no país não teve a ver com a defesa de que os direitos conquistados até aqui retrocedam. O povo a chamou de marcha pela democracia, pela liberdade.
Em Florianópolis, o companheiro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, (MST), Nauro José Velho, denominou a situação como uma necessidade de ocupar as ruas para dizer que não há conivência com as “parcerias” até então estabelecidas pelo atual governo, mas que existe a precisão de se fazer política comprometida com a pluralidade. “Nós viemos para a rua porque nunca saímos dela. Quem defende a ditadura é porque não conhece a história. Nem os militares de hoje acredito, desejariam retroceder ao autoritarismo que marcou esses períodos da história. Precisamos estar aqui, para fortalecer a nossa unidade nesse momento tão complicado para o Brasil”.
Nesta mobilização que movimentou Florianópolis e várias regiões do país, importante fazer o recorte salientando as denúncias que os militantes e participantes fizeram a postura da imprensa tradicional conservadora, que historicamente busca e consegue desconstruir as lutas históricas dos povos e também sufoca a população brasileira com tamanha desinformação todos os dias. “A mídia é golpista. Precisamos falar disso e apontar para ela. Por isso a gente se juntou a marcha, para defender a democracia, a liberdade que essa mídia nos quer tirar e faz”, acrescentou Sanir Francisco Bedin, que participou da marcha em Florianópolis, mas que reside no interior do estado, no município de Barra Bonita-SC.
Tratando-se do interior do estado, em Chapecó-SC, militantes de diversas organizações populares, pastorais sociais e sindicatos, participaram da mobilização que iniciou próximo às 18h. O entendimento da maioria destas organizações sobre o atual momento é de que a palavra, o simbolismo e a concretude de um golpe já existe no território Brasileiro.
“Além do golpe midiático que atinge a população, rememora-se também a vida dos trabalhadores/as explorados/as nas grandes empresas, os imigrantes trazidos para o Brasil e que se encontram desolados, sem emprego, com pouca comida e estrutura básica de vida. Recordam-se as marchas defensivas a ditadura militar, contra o direito de manifestar-se em praça pública, além da morte de indígenas, degolados, baleados pelos patrões do agronegócio e pelos pobres sem consciência”. Nisso tudo está, segundo as organizações, contido um grande golpe contra a democracia, contra o direito dos trabalhadores/as, em desfavor da vida, essa, que se almeja sem opressão, exploração.
Paulo Fortes, jovem do coletivo PJMP/PJR-SC, responde ao golpismo e ao desconhecimento da história do país por grande parte dos brasileiros, com a esperança que segundo ele, planta-se não apenas neste dia 18, mas que também foi semeada no 08 de março de cada ano, 1° de maio, em tantos dias de luta, pois os meninos e meninas que sonham, jamais descansam. “Pra quem tinha esquecido da militância foi um momento pra retomar, e pra quem nunca deixou ela de lado foi um momento pra reafirmar o posicionamento e defender a democracia. Foi um Lindo momento de luta onde reafirmamos nossa ideologia, foi momento único e espero que continuamos na rua onde é nosso lugar”.
Os militantes falaram mais e aqui, replicamos o que é unânime para todos/as. “Essa nossa ida para as ruas ainda demonstra que podemos sonhar. Que mesmo na contramão da informação… conseguimos mostrar que a classe trabalhadora ainda tem força e energia pra enfrentar o fascismo. Isso não quer dizer que é possível visualizar uma vitória da esquerda em curto prazo… Mas demonstra que uma boa parcela da população brasileira ainda acredita na razão humana. Na vida em sociedade sem exploração de ricos sobre pobres… que ainda é possível ter utopia”.
Fotos: Tali Feld Gleiser e Maria Carmen Vieiro.