Nas primeiras horas de referendo, leste da Ucrânia tem alta participação e conflitos esparsos

Exército pró-Europa de Kiev bloqueia estradas e usa blindados para tentar impedir plebiscito separatista em Donetsk e Lugansk

Atualizada às 11h01

Apesar de ofensivas do Exército de Kiev para impedir a consulta popular no leste da Ucrânia, as primeiras quatro horas de abertura das urnas foram marcadas por um índice de participação de 65% em Lugansk e  50% em Donetsk. De acordo com líderes separatistas, a votação acontecerá até as 22h (16h, em Brasília) na maioria das cidades. Contudo, o resultado só será divulgado na segunda-feira (12/05). Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia defendeu novamente hoje que o referendo é ilegítimo em Kiev e não afetará a integridade do país.

Em Donetsk, os organizadores pró-Rússia comemoravam o alto índice de comparecimento. “A participação supera todas nossas expectativas. Estamos muito contentes”, declarou Roman Liaguin, chefe da comissão eleitoral. Já o governador da autoproclamada “República Popular de Donetsk”, Pavel Gubarev, afirmou que “o referendo significará um novo paradigma”.

referendum

Logo após a abertura do colégio eleitoral, Slaviansk foi palco de intenso tiroteio entre tropas ucranianas e milícias pró-Rússia. O chefe da polícia da cidade de Mariupol, Valeri Androshuk, que havia sido sequestrado por separatistas pró-Rússia no dia anterior, foi encontrado enforcado perto do aeroporto da cidade. Devido aos violentos confrontos nos últimos dias, Slaviansk e Mariupol, ambas da província de Donetsk, tiveram a menor participação até o momento, em torno de 20% – quantia que o Liaguin atribuiu às ações militares.

Já em Lugansk, o clima foi de tensão. Na província, as seções eleitorais não puderam ser abertas no norte, pois a Guarda Nacional ucraniana bloqueou os veículos nos quais se transportavam as cédulas de votação, alegou Aleksandr Malijin, presidente do comitê eleitoral regional, à Interfax. Ainda na região de Lugansk, a sede da comissão eleitoral da cidade de Novoaidar foi evacuada às pressas depois que o Exército de Kiev apareceu para impedir o plebiscito.

Além disso, os separatistas pró-Rússia alegam que as tropas do governo provisório pró-Europa de Kiev estão fazendo uma série de ofensivas para impedir o comparecimento às urnas em pelo menos cinco outros distritos das regiões, como o uso de blindados e o bloqueio de estradas. Segundo jornalistas da Reuters, o referendo tem “ares de improviso”, pois as cédulas de votação foram impressas sem itens de segurança e o registro de votantes apresentou falhas.

Em processo semelhante ao que aconteceu na península da Crimeia em março, os habitantes das duas regiões devem responder às seguintes questões: “Você aprova a independência da República Popular de Donetsk?” e “Você aprova a independência da República Popular de Lugansk?”. Contudo, as conseqüências do referendo — tido como válido pela região, mas ilegal para Kiev e para a comunidade internacional ocidental — ainda não foram bem estabelecidas.

“Se a maioria da população de nossa região responder “sim”, isso não significa que a região de Donetsk será incorporada à Rússia, ou que, caso contrário, permaneça dentro da Ucrânia, ou que se transforme em um Estado independente”, explicou Liaguin, no sábado (10/05). Lideranças de grupos anti-Kiev já haviam, durante esta semana, anunciado a intenção de criar um Estado independente — chamado de “Nova Rússia” — que englobaria as regiões de Donetsk, Lugansk, Carcóvia, Odessa e Nikolayev.

“Farsa criminosa”

“A realização em 11 de maio do ‘referendo’ ilegítimo sobre o status das regiões de Donetsk e Lugansk não tem nenhum valor jurídico nem terá consequências legais para a integridade da Ucrânia”, afirmou hoje o Ministério das Relações Exteriores em nota. “Os organizadores dessa farsa criminosa violaram conscientemente a Constituição e a legislação da Ucrânia, desprezaram os apelos das autoridades ucranianas e da sociedade internacional”, acrescenta. Por sua vez, o Ministério da Justiça da Ucrânia ameaçou com a perseguição judicial contra os organizadores da consulta. “Aqueles que através das armas estão organizando isso assumirão a responsabilidade”, advertiu o ministro da Justiça, Pavel Petrenko.

Ontem, o presidente interino ucraniano, Aleksandr Turchinov, definiu o referendo com um “cortejo à catástrofe” se o resultado do referendo for positivo para os separatistas. “Seria um passo em direção ao abismo para essas regiões”, escreveu o líder provisório em seu site ontem. “Aqueles que defendem a autonomia não entendem que isso significaria a destruição total da economia, dos programas sociais e da vida em geral, para a maioria da população”, acrescentou.

Foto: RT.

Fonte: Ópera Mundi.

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