No dia 28 de julho, Moti Dotan, chefe do conselho regional da Galilea – parte do atual território israelense que compreende a maior diversidade étnica da região – disse, em entrevista à radio Koi Chai, que árabes não deveriam frequentar as piscinas mantidas pelo conselho, pois a sua cultura e hábitos de higiene podem ofender os padrões judaico-israelenses. Ao longo da entrevista, Dotan reforçou diversas vezes que sua opinião não era racista.
“Eu não odeio árabes, mas eu não quero eles nas minhas piscinas. Eu também não frequento piscinas deles. Se eu for lá usando uma sunga pequena, ou levar garotas de biquíni comigo, é evidente o que vai acontecer. […] É diferença cultural, não é racismo. Na cultura não-judaica, na dos árabes, eles vão à piscina usando roupas e tentam impor seu modo de vestir e coisas assim, e isso não é aceitável para nós. A cultura de higiene deles não é como a nossa. Por que isso é racismo?”
Quando questionado pelo apresentador do programa sobre a visão rasa que Dotan apresentou sobre árabes, o político israelense disse que os palestinos são livres pra construir as próprias piscinas, e acrescentou “Se houver biquínis lá, eu ficarei feliz em aparecer e me juntar a eles”.
O jornal israelense Haaretz lançou um artigo sobre o caso, dizendo que Dotan não é um extremista, mas sim um representante da opinião geral da população média israelense. O texto diz:
“Ele não é um membro da La Famiglia, o setor da torcida fanática do Beitar Jerusalém, e não gritaria ‘Morte aos árabes’ nos estádios. O chefe do conselho da Galiléia, na verdade, expressa o que muitos judeus – senão a maioria da população judaica de Israel – pensa. Na hierarquia do racismo, a posição de Dotan pode ser colocada junto à dos donos de boates que proíbem a entrada de israelenses de origem etíope, ou de qualquer um cuja cultura ‘não seja característica da minha cultura em áreas de lazer, como piscinas’, como Dotan ressaltou. […] Mas é justamente a ‘sua’ cultura que nutriu esse racismo ignorante durante anos e que mantém relações de inimizade com as minorias árabes, sendo parte do que molda a identidade cultural nacional israelense. Essa cultura racial é alimentada por uma liderança que fez da exclusão e isolamento dos cidadãos árabes do país a espinha dorsal do patriotismo israelense. É a mesma liderança que excluiu o poeta palestino Mahmoud Darwish do currículo escolar e do discurso público; que tem medo do termo ‘Nakba”; que ataca teatros palestinos e judaicos que ousam expor a narrativa palestina; e que tenta destituir do Árabe o status de língua oficial do país.”
Moti Dotan está sendo processado pela Coalização Árabe contra o Racismo, que pede 10 milhões de shekels (R$ 8.371,000,00) como reparação pela incitação ao racismo. A coalizão alega que toda a população palestina deve ser ressarcida pelos comentários do sionista.
Durante a entrevista, Dotan disse “certa vez alguém me disse que um líder deve demonstrar liderança, e não buscar popularidade nas redes sociais. Eu quis dizer cada palavra que disse.”. No dia seguinte, no entanto, surpreso com a repercussão de seu discurso xenófobo, Dotan pediu desculpas em sua conta no facebook, alegando que “infelizmente, é possível que eu tenha sido mal interpretado, e eu posso ter cometido um deslize na minha fala. Nesse caso, eu peço desculpas”.
Moti Dotan é filho e neto de sobreviventes do holocausto que foram para a Palestina em 1948.
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