‘Não é tempo de violência’, afirma presidente da Anvisa. Servidores acusam Bolsonaro de ‘métodos fascistas’

Em pronunciamento, Barra Torres rebate declaração e ameaça do presidente após Anvisa liberar vacina contra a covid para crianças de 5 a 11 anos

Em pronunciamento, Barra Torres rebateu ameaça de Bolsonaro após Anvisa liberar vacina a crianças de 5 a 11 anos. Especialistas afirmam que a medida é segura. Foto: Reprodução/YouTube

Antes de começar a 25ª Reunião Ordinária Pública da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta sexta-feira (17), o presidente do órgão, Antonio Barra Torres, fez pronunciamento no qual refutou declaração de Jair Bolsonaro sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19, liberada por decisão da agência ontem. “Não é tempo de violência, não é tempo de sentimentos menores. A luta ainda vai longa. Precisamos manter máscara, evitar aglomeração que pode ser evitada, higienizar as mãos e lembrar que o eixo do combate à pandemia é vacina, vacina e vacina”, disse o dirigente.

Ele afirmou à população do país que a Anvisa trabalhou no caso das vacinas para crianças “no estrito cumprimento do seu oficio”, analisando material científico em  parceria com as sociedades brasileiras de Pediatria, Imunologia, Infectologia, Pneumologia e Tisiologia, as quais “forneceram solidez à decisão” da agência.

Ontem, após a aprovação da vacinação para crianças pela Anvisa, Bolsonaro ameaçou: “Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são essas pessoas e, obviamente, formem o seu juízo”.

Em “Nota de Repúdio às tentativas de intimidação ao corpo técnico da Anvisa“, a Associação dos Servidores da Anvisa (Univisa) afirma que “a intenção de se divulgar a identidade dos envolvidos na análise técnica não traz consigo qualquer interesse republicano”. Ao contrário, Bolsonaro faz incitação à violência contra o cidadão, “método abertamente fascista e cujos resultados podem ser trágicos e violentos, colocando em risco a vida e a integridade física de servidores da agência”, continua a Univisa.

“Estamos todos juntos”

No pronunciamento, Barra Torres respondeu à ameaça de Bolsonaro, sem citar seu nome. “Se formos consultar todas as pessoas que contribuíram para o posicionamento (da vacina em crianças) a lista contaria com mais de 1.600 nomes. As atividades estão entrelaçadas. Por ordem alfabética, meu nome estará lá. Na decisão de ontem estamos todos juntos, somos legalistas e cumpridores do que a lei determina.

O diretor-presidente lembrou de graves ameaças sofridas recentemente pelos membros da agência. “Não faz muito tempo fomos ameaçados com morte, com perseguição, com uma série de outros atos criminosos, em outubro e início de novembro, o que somou a um trabalho já muito difícil complexo e desgastante preocupações desnecessárias”, disse. Ele falou ainda na “forte tradição” do Brasil e dos brasileiros em relação às vacinas, o que permitiu a “muito boa” situação vacinal da população contra a covid-19.

“Ativismo político violento”

Mais cedo, em nota, a própria Anvisa havia mencionado as “ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos” sofridas pelos técnicos em outubro, “no escopo da vacinação para crianças”. De acordo com o texto, a agência “se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento”. Leia a íntegra da nota.

Já os cientistas defendem a vacinação das crianças. Em vídeo exibido durante a reunião da Anvisa, Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações e presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, destacou o alto risco corrido pelas crianças. “Só a covid-19 nessa população de crianças e adolescentes mata mais do que todas as doenças do calendário infantil somadas anualmente”, disse. Assim, segundo a comunidade científica, a vacinação de crianças de 5 a 11 anos é segura.

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