Não é “Contra a Violência Contra a Mulher”! É Contra a Violência Machista mesmo. Por Flávio Carvalho.

Quer ver como pode ser realmente fácil e muitas vezes somos nós mesmos que complicamos tudo?

Foto: Casa da Gente

Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.

Eu não cometerei o mesmo erro que você quando você não estiver aqui. Eu não vou cometer o mesmo erro, porque Eu não quero. E tudo que estou pedindo é um pouco de respeito quando você vier à minha casa (nem que seja só um pouquinho)”, Aretha Franklin, Respect.

Ela bebeu vinho suficiente para que eu percebesse que ela não estava cem por cento consciente.

Ainda assim, ofereceu-me dormir no seu sofá.

Faltavam poucos minutos pro meu último trem pra casa. Eu aceitei o convite dela. Perdi o trem.

Ganhei bem mais.

Ao chegarmos na sua casa, ela “desmaiou” no seu quarto, cansada.

Não sem antes aproveitar suas últimas forças para tirar quase toda a roupa.

Fazia um calor danado em toda Barcelona. Insuportável.

Sem conhecer nada da casa, só meu restou deixar-lhe dormir tranquila, fechar a cortina da “minha” sala e a porta do seu quarto. E acomodar-me, como eu pude, no sofá da sala.

Foi então que, no meio da madrugada, ela começou a me chamar baixinho, sussurrando o meu nome.

Na terceira ou quarta vez, depois de fingir não escutar, eu atendi. Fui até lá.

Fui até ela e decidi – cem por cento consciente; eu, sim! – dar-lhe um beijo carinhoso de boa noite, buscar qualquer cobertor e lhe cobrir.

Até tentei que ela bebesse um copo d’água. Mas nem deu tempo. Ela dormiu.

Fazia um calor danado em toda a cidade (como eu já disse, realmente insurportável) e escolhi o lençol mais fininho, entre tudo que eu pude encontrar, por ali.

Voltei ao “meu” sofá, insistindo ainda mais – como tudo naquela noite, dialogando comigo mesmo – pra eu tentar dormir.

Ela chamou uma última vez, quase no minuto seguinte. E ainda mais baixinho (nem me pergunte como eu a escutei, depois de ter o cuidado de deixar a porta, do quarto dela, fechada).

Eu sei que cento e um por cento é um valor que não existe, mas foi como eu me senti, plenamente consciente (ao percebê-la ainda plenamente não-consciente), que entre todas as vontades que me vinham – porque me vinham, sim, as tais vontades – a melhor foi a que eu escolhi: voltar a tentar (tentar!) dormir.

Não demorou a amanhecer.

Acabei de me vestir, peguei todas as minhas coisas, vi que ela ainda dormia, e – sem fazer barulho – eu saí.

Ato seguido, enviei a ela uma mensagem de bom dia.

No final da manhã, ela respondeu, com uma carinha amarelinha de Whatsapp: aquela que me envia um beijinho com coraçãozinho.

Foi o suficiente pra me fazer sorrir.

E sorrindo, como quase tudo naquele dia, de mim pra mim mesmo: “que bom ir trabalhar, Flávio, sem ressaca, sem nada; que bom que eu não bebi mais vinho”.

No domingo seguinte, dançamos um forrozinho, olhando um pro outro e sorrindo.

Tocou um sambinha e foi a minha vez de lhe dizer, contente e sorridente: “hoje, dividiremos apenas uma garrafinha de vinho”.

Contra as Violências Machistas?

Não me engane, Homem, que eu só quero te mostrar como é fácil.

Repita comigo, uma palavrinha somente, que diz muito (quase como Aretha Franklin): R-E-S-P-E-I-T-O.

A ela? Não, rapaz. Que nada…

A você mesmo.

Se respeite, camarada.

Te conto uma última coisa. Sabe qual foi a melhor maneira que eu encontrei para dormir (pouquinho) mas tranquilo, naquele sofá, lá na casa dela?

Sentir-me eu, lá, sozinho, feliz.

Não existe sorriso mais relaxante que o que tu dás, de noite, ao teu querido travesseiro.

Ou à almofada. A que vira travesseiro improvisado no sofá – ao qual fostes gentilmente convidado.

PS.: Agora, o melhor. Dias depois, ela me perguntou: “e se eu estivesse querendo, naquela noite, mais que um beijo de boa-noite?”. Deu muito certo, responder a ela, olhando nos seus olhos, naquele mesmo momento, bem conscientemente: “é só me dizer como agora, objetivamente (e sem tanto álcool no meio!); e, aliás, falando nisso, vamos tomar um vinhozinho?”.

E esse texto, antes de publicar-se é extremamente cauteloso e respeitoso. Ao não expor ela a absolutamente nada.

Que eu não sou besta.

Vai te tratar, Nego do Borel.

Viva o 25 de Novembro.

E aquele abraço.

Barcelona, noite fria de outono de 2021.

Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya.

@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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