Por V. B., para Desacato.info.
Não vou deixá-lo destruir a beleza de você que há em mim
Estou cansada e triste
A noite se alonga e rompe-se o laço de esperança.
Ao apagar a luz, fecho os olhos
E apago você de mim.
Não posso ir além dos meus olhos
Você é limite da ausência que incomoda.
Limite que não existe na duração entre a imaginação e o fato,
Mas em seu fim.
Limite porque é fim
Porque se de mim dependesse,
Limites seriam ilimitados.
Como tudo escapa aos nexos e coerências
Que a vida ao se esquivar procria,
Sinto que escolhas não são possíveis.
Nunca em minhas mãos,
Porque escorre por entre os dedos.
Perturba a falta
Tenho que conviver com ela
Amiga da dor e recusa da entrega verdadeira.
Você é o que só você pode querer.
Desfaleço em meus desejos
Sedenta pela vida que se nega
E desaprova o movimento do excesso que sou eu.
O que resta é passividade
Momento de não ser eu.
Sinto que o freio da vida surge
Como um obstáculo substituto da ação
Ele quer impedir minha euforia,
Meu grito sufocado.
Preciso recuar, mas não sei
Sofro por não saber
Já estou comprometida.
O tempo certo não existe,
Se existiu, se foi e não o vi.
Escolhas não existem,
Porque se existem não estão ao meu alcance.
Não posso mais seguir compassos
As pausas demasiadas ampliaram o espaço sem música.
É tarde, e já me atirei no som inaudível do abismo.
Perco o que nada possuo
Nem mesmo uma lasca do ato pretendido.
Ato sempre em descompasso com o pensamento e o desejo
Que quando se torna ato, violenta a beleza
Porque é a vontade de ser que não é
Vontade forçada.
Sou contemporânea e não há felicidade nisso
Sou excesso o tempo todo e assusto.
Quando não sou eu é a vida que me engana.
Não sei jogar o jogo dela,
Jogo da dissimulação
Do faz de conta que não quero para tê-lo.
No escuro espaço do abismo
Eu enganada e ela traiçoeira
Ressoamos juntas
No limiar do que pode ser vivido.
—
Imagem de capa: Mulher no Espelho de Pablo Picasso.