Por Luciane Recieri, para Desacato.info.
Esses dias não têm sido dos melhores, Tiago, mas numa tarde dessas, enxerguei o Armênia vindo na Dutra, mas antes de enxergar, devo dizer que perguntei ao porteiro da universidade, se ele sabia onde poderia achar um horário pra eu não ficar feito besta por mais de uma hora na parada.
Mas não disse feito besta nem nada, só perguntei se ele sabia. Ele disse que não com os olhos. Nesse segundo de descaso, lembrei que talvez fosse a palavra “parada” que não caíra bem. Usei porque meu pai usava. Dizia, “tem que descer na quarta parada…”
Achava bonito e só, daí usei. Mas nesse segundo de solidão, vinha um moço e disse “escutei Armênia?” E eu, com meus olhos de cachorro que não sabe o som de um substantivo próprio, disse que sim com o queixo. Ele explicou. Disse o tom da lataria, que o letreiro era fonte times new roman, que os bancos eram forrados com courino azul turquesa nessa hora da tarde, pra eu ter cuidado no escuro e que se precisasse ir no escuro, que juntasse uma patota.
Daí, eu quase perguntei se ele queria tomar um café ou se ele gostava de trilha sonora de filme. Ele foi. Eu fui. O sol entrava tão filtrado.
A tarde em São Paulo era tão macia, o sacolejar do ônibus era tão colo que nem fiquei chateada ao perder o das 4 por cinco minutos. Fiquei ouvindo um estranho tocar piano e comprei um livro de crônicas e ainda me pus, como sempre, no lugar comum e solitário dos pombos.
Sabe, Tiago, nem chorar consigo mais.
Eu morri por dentro