Por Carmen Susana Fava Tornquist, de Cuiabá, para Desacato.info
Começou ontem, dia 23 de janeiro, em Cuiabá, “capital do Agronegócio”, o 36º Congresso Nacional do ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior).
O congresso reúne professores e professoras de universidadesbrasileiras, tanto federais quanto estaduais, e é o principal evento de um calendário cheio de atividades políticas que marcam os 35 anos de luta desta associação sindical.Participam representantes de 70 sessões sindicais de todo o Brasil, entre ais quais a Seção Sindical do ANDES da UFSC, e a APRUDESC, eleitos em assembléias locais, ainda no ano de 2016, perfazendo um total de 357 delegados, e cerca de 120 observadores e convidados.
A mesa de abertura, instalada no teatro da UFMT, foi antecedida por uma apresentação de danças, o cariri e do sururu, danças populares da região, animadas por uma viola de 5 cordas. A mesa de abertura contou com a presença de expressivas lideranças de sindicatos e movimentos sociais com quem o ANDES tem construído alianças em campanhas e lutas nacionais, como o SINASEFE, a FASUBRA, a nível nacional, sejam elas de caráter mais amplo, como o MST e o MTST e aCSP-Conlutas, central sindical à qual o sindicato é afiliadoe idealizador. Também estiveram presente Maria Lucia Fatorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, introduzindo o debate que se ampliou a noite, sobre as razões e as consequências do sacrifício imposto a classe trabalhadora pelo setor financeiro pelas sucessivas reformas feitas em nome do ajuste fiscal e no sistema da dívida pública.
As falas no momento de abertura foram marcadas por breves avaliações da conjuntura política atual, vivida no Brasil, temática que será tratada com profundidade nos próximos dias, a partir daschamadasteses, que serão expostas e debatidas em pequenos grupos, e, depois, na plenária final,onde são votadas as deliberações e encaminhamentos que alimentarão a pauta do Sindicato Nacional para o ano em curso, em termos de suas diretrizes gerais.
A metodologia de trabalho corresponde a uma organização democrática, de base, que permiteque as associações sindicais de cada universidade realizem os debates entre seus pares, antes do congresso, garantindo a sua representatividade.
As teses correspondem a quatro grandes temas:“Movimento docente, conjuntura e centralidade da luta”, Políticas sociais e Plano geral de lutas”, “Plano de luta dos setores” e “Questões organizativas e financeiras”. Os pontos centrais que alimentam o Congresso são o processo de retirada de direitos pelo governo Temer, as alterações na Constituição, a reforma da previdência, a reforma do ensino médio, os projetos de lei denominados de Escola sem partido (Lei da Mordaça), os cortes de verbas e de retirada de direitos trabalhistas nas instituições de ensino superior, a busca de construção de unidade dos trabalhadores, os processos de resistência e de enfrentamento que estão colocados nãos movimentos sociais, a necessidade de construir uma greve geral, entre outros. Não obstante haver divergências com relação a estes e a outros temas, a dinâmica de organização – fortemente democrática- permite que as deliberações sejam acatadas por toda a categoria.
Além de uma calendário extenso e intenso de lutas no sentido do enfrentamento e da capilarização do sindicato junto aos novos integrantes da categoria, o ANDES tem como desafio coletivo, junto aos setores com os quais se alinha retomar o trabalho de base a construção de uma perspectiva de transformação social que ultrapasse a lógica eleitoral e institucional e retome, a partir dos novos desafios do século XXI,a perspectiva classista, socialista e revolucionária que caracteriza a história da esquerda no mundo capitalista. Por esta razão, ao longo do ano de 2017, o ANDES fará comemorações dos 100 anos da primeira greve no Brasil, dos 50 anos do assassinato de Che Guevara, a morte de Fidel Castro, dos 100 anos do Movimento Estudantil de Córdoba, e dos 100 anos da Revolução Soviética. Com o propósito de “aprender com o passado para construir o futuro”, estas atividades se somam ao importante trabalho que o ANDES vem fazendo com a questão da verdade, da memória e da Justiça, em paralelo aos trabalhos da comissão nacional oficial, e a sua longa trajetória de construção de uma categoria de docentes da educação superior articulado com as demais categorias da classe trabalhadora brasileira.
Para encerrar a abertura, a mesma viola que embalou o cariri e o sururu, acompanhada de clarinete, tocoua Internacional, famosa canção de Eugène Pottier e Pierre Degeyter . Assim, o improvisado, mas, animado“coral” dos congressistas, pode esquentar as cordas vocais, cuja serventia será intensa nos próximos dias, cantando a versão em português do Hino da Internacional, que vale a pena relembrar:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A internacional
Senhores patrões chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
a terra mãe livre e comum
Para não termos protestos vãos
Para sair desde antro estreito
Façamos nós por estas mãos
tudo o que a nos diz respeito