Mulheres sem terra organizaram manifestações de massa em todo país, nesta terça-feira (20), como continuidade da Jornada de Lutas iniciada no 8 de março. A temática principal das ações foi a denúncia contra a exploração comercial da água. A negociação da privatização dos recursos hídricos é o pano de fundo das articulações que o governo golpista de Michel Temer faz com organizações multinacionais no Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília.
Pela manhã, mais de 600 trabalhadoras rurais sem terra ocuparam a fábrica da Nestlé, em São Lourenço (MG). A multinacional é acusada de explorar a reserva de água da região há 21 anos. Antes da chegada da fábrica da empresa, em 1997, as águas eram amplamente utilizadas para tratamento medicinal pelos moradores.
Após a manifestação, a Polícia Militar (PM) manteve os ônibus em uma rua, com mais de 400 mulheres dentro, e apreendeu as chaves de outros nove veículos.
Em Sergipe, cerca de 300 assentados ocupam a portaria da Usina de Xingó, em Canindé de São Francisco, desde as primeiras horas da manhã. Os manifestantes pretendem ficar no local até que uma audiência seja marcada com a superintendência da Codevasf, empresa pública responsável pela gestão do Vale do Rio São Francisco e região) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Cerca de duas mil mulheres sem terra da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Alagoas participaram da ocupação na sede da Chesf (Companhia Hidroelétrica do Vale do São Francisco), em Paulo Afonso, na Bahia, para denunciar a tentativa de privatização da estatal.
Mulheres sem terra também fecharam um trecho da rodovia BR-101, em Conceição da Barra (ES). Esta ação contou com a participação de 200 sem terra que protestaram contra o agronegócio, contra a reforma da previdência e a privatização da água.
Na internet, o apoio às manifestações populares foi representado pelo tuitaço com a marcação #MulheresPelaÁgua, com postagens de fotos e vídeos das manifestações, inclusive da repressão policial na ocupação da Nestlé.
Em nota, a Nestlé diz que respeita a liberdade de expressão e opinião, mas lamenta que a manifestação tenha gerado danos nas instalações, local de trabalho de cerca de 80 colaboradores. A empresa afirma também que está comprometida com a administração sustentável dos recursos hídricos e nega que tem planos de extração no aquífero Guarani ou negocia o tema com o governo.