Por Nicoly Ambrosio, Amazônia Real.
Manaus (AM) – Mulheres indígenas querem ocupar mais espaços nas discussões e decisões políticas do país. Lideranças de todos os biomas, estados e regiões do Brasil pretendem sair em caravanas de seus territórios para discutir formas de ampliar sua presença por meio da chamada “Bancada do Cocar” no Ministério dos Povos Indígenas, na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Para isso, organizam-se novamente para a Marcha das Mulheres Indígenas, prevista para acontecer em setembro. Mas antes disso, elas farão uma pré-marcha, que acontece entre os dias 29 de janeiro e 1° de fevereiro, em Brasília.
“Mulheres de várias frentes que se juntam para acreditar que é possível construir e trazer nossa voz e nossa luta para a política a partir da nossa realidade local e externa, fora do nosso território”, disse Puyr Tembé, cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e uma das mulheres que estão a frente da organização do evento.
O encontro é organizado pela Anmiga com apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e vai ser o primeiro momento para discutir demandas, propostas e programações da III Marcha das Mulheres Indígenas. A primeira Marcha aconteceu em 2019 e a segunda, em 2021.
De acordo com Puyr Tembé, os principais debates da Pré-Marcha das Mulheres Indígenas irão tratar da luta pelo território e da demarcação das terras, uma forma de preservar a essência dos povos. “A defesa dos territórios é importante pois mantém nossa essência enquanto indígenas. Também queremos discutir questões que defendem a cultura e saúde indígenas, a defesa das mulheres para que possam ocupar espaços de poder e lutar por qualidade de vida, por todo o desenvolvimento que possa chegar dentro dos territórios por meio de políticas públicas”, afirma.
Além da movimentação pela III Marcha das Mulheres Indígenas, as lideranças irão participar da posse de Célia Xakriabá (Psol) no dia 1° de fevereiro. Primeira indígena eleita deputada federal por Minas Gerais, Célia Xakriabá representa as mulheres indígenas da Bancada do Cocar e entre suas propostas de mandato está a demarcação de terras indígenas e o reconhecimento de profissionais indígenas na educação.
Para Sâmela Sateré-Mawé, ativista ambiental, comunicadora e uma das organizadoras do encontro junto à Anmiga, a eleição de Célia Xakriabá representa uma luta de anos das mulheres indígenas por representatividade na política, já que a construção da Bancada do Cocar, segundo ela, começou em 2018 com a candidatura da agora, ministra Sônia Guajajara, à vice-presidência da República na chapa encabeçada por Guilherme Boulos.
“Agora, essa bancada se expande com várias mulheres indígenas de vários estados se candidatando como deputadas federais. A eleição da Célia é muito importante, queremos estar presentes na posse e assistir esse momento histórico de consolidação onde a gente consegue um protagonismo dentro da política nacional”, diz Samela.
Sem apoio financeiro, a Anmiga organizou uma vaquinha online para custear alimentação e transporte tanto para a Pré-Marcha das Mulheres Indígenas quanto para a III Marcha das Mulheres Indígenas.
“Nós estamos precisando de apoio financeiro para que essas potências e guerreiras consigam ter um momento de fala no ato histórico que será a posse da Célia Xakriabá”, disse Evelin Hekere, do povo Terena, do Mato Grosso do Sul.
Com um grupo formado por 15 mulheres coordenadoras de território, as Terena pretendem ter um encontro pessoalmente com a ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara. O objetivo é mostrar que as lideranças da base estão lutando.
“Queremos a participação das mulheres do nosso território na política, queremos mostrar nossa força e também fortalecer nossas parentas. Precisamos dessas mulheres potentes na política”, afirma Ivanilda Pereira, coordenadora da caravana das Terena.
A retomada e a vivência em território urbano também são pautas que as mulheres Terena pretendem levar à Pré-Marcha das Mulheres Indígenas.
Maria Araújo, representante da Aldeia Tereré, na Terra Indígena Buriti, localizada perímetro urbano do município de Sidrolândia no Mato Grosso do Sul, explica que mesmo vivendo em uma aldeia urbana as mulheres Terena possuem seus espaços de retomadas em áreas rurais, e precisam das demarcações para o reconhecimento de suas identidades indígenas:
“Nós temos esses locais nas retomadas onde trabalhamos, fazemos nossas plantações e criamos nosso cultivo para viver na cidade. Na cidade não somos reconhecidos quando precisamos da Funai ou do Sesai, por exemplo. O reconhecimento das nossas retomadas irá fortalecer nossa comunidade”.
Para apoiar a luta das mulheres originárias, entre neste link.