Mulheres do Oeste Catarinense no contexto da Pátria Grande

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

Você sabe quem são as mulheres do Oeste Catarinense, que fazem parte do contexto de lutas da Pátria Grande? Em 2017, após a produção do primeiro episódio da série  do Portal Desacato, feita por Tali Feld Gleiser, na República Dominicana sobre o assassinato das irmãs dominicanas Minerva, Pátria e Maria Teresa Mirabal (as três borboletas) fato que deu origem ao dia 25 de novembro em que se comemora o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, o Oeste Catarinense produziu um episódio contando a história das mulheres que vivem e trabalham na roça, que são trabalhadoras urbanas e que se movimentam nessa corrente de luta que conduz a nossa história.

Depois do Oeste veio Ana Rosa Moreno, da cidade de Puebla, no México, que nos apresentou a história de Carmen Serdán, “uma mulher que se infiltrou num mundo dominado pelos homens, a violência e a barbárie”.

Então, veio Débora Mabaires, da Argentina, para nos contar a história de Hebe de Bonafini, mãe da Praça de Maio, “a vigência da resistência e a luta pela verdade, memória e justiça para os desaparecidos da ditadura argentina (1976-1983)”.

Então hoje, neste 8 de março, da cidade onde vivo que é São Miguel do Oeste/SC, divido com vocês o roteiro que foi a linha condutora da nossa produção para Desacato. info. Contar a história das mulheres que estão caminhando dia a dia com a gente é fazer justiça. Mostrar as “outras” mulheres, essas que jamais aparecem na mídia conservadora porque não é de interesse dessas mídias, é nosso compromisso para com  a classe trabalhadora.

Viva a luta das mulheres e de todos os companheiros que querem construir uma sociedade diferente a qual só será construida com a emancipação de todos/as os/as trabalhadores/as.

Mulheres do Oeste, da Pátria Grande 

“Com muito carinho apresentamos o Projeto Mulheres da Pátria Grande gravado aqui no Oeste Catarinense, região próxima a tríplice Fronteira que reúne paranaenses, catarinenses e argentinos. Nessa aliança junto com Desacato, que ultrapassa fronteiras, o Oeste Catarinense passou há três anos, a fazer parte dos mapas das lutas do Brasil, da integração com outros povos, outras culturas, internacionalizando suas relações. Graças a essa aliança, a gente mostra para o mundo quem são as mulheres do Oeste Catarinense que fazem parte da história e lutas da nossa Pátria Grande.

Camponesas, operárias, Jovens, outras mais experientes. Algumas mães de gestação, outras, recolheram em seus braços essa nação que peregrina nas ruas. Diferentes, de uma imensidão desmedida. A sensibilidade permeia o olhar que também é firme, direcionado. Assim elas se expressam, agitam a massa, organizam o povo, observam, constroem a luta mesmo dentro da casa, ou fora, tirando o leite, estendendo a roupa, movendo as agulhas do artesanato da vida. Ao final, ainda pedem silêncio para que a sociedade ouça as dores geradas por toda essa estrutura do Capital, da sociedade patriarcal, desigual e machista.

Não existe outra forma de falarmos das mulheres do Oeste Catarinense, que fazem parte do Contexto da Pátria Grande, se não mostrarmos o lugar onde elas se encontram. Essas são as mulheres Socialistas que assumiram a luta Internacionalista, pela vida. As mulheres que historicamente vem sendo chamadas de vagabundas, desajeitadas, baderneiras. Elas estão nas ruas, na base, participando dos encontros, visitando os vizinhos e vizinhas, espalhando a utopia mesmo sem saber algumas vezes que isso se chama trabalho de base, que também lutam contra a sociedade de classes. Mas elas estão ali, atentas, inflamando opiniões, querendo se libertar.

Envolvidas nas tarefas da luta, nas jornadas de trabalho que sempre foram mais do que triplicadas, as mulheres do Oeste Catarinense não estão apenas nas ruas, mas são também aquelas que nos dão as condições concretas para estarmos aqui, hoje, fazendo a luta da classe trabalhadora, por direitos, vida, dignidade. São essas que muitas vezes permanecem em casa nos dias que preferiam estar nas ruas, somando. A luta de cada uma se expressa na unidade, desde a casa, cuidando dos afazeres que deveriam ser de ambos, até a rua. É dessas mulheres que falamos. Feministas, organizadas, que ainda sofrem opressão, que ainda são violentadas por homens, por outras mulheres, pela mídia mafiosa, pela sociedade.

Elas são belas, carregadas de amor, de sentimentos, de solidariedade. São Mulheres que doam a vida por amor a natureza, ao seu jardim de esperança e compromisso.

Mulheres que questionam e consolidam pautas, sonhos. Em um cenário que desde 1500 mata os povos, envenena a produção, contamina a água. De crise econômica de venda do nosso território, riquezas e pessoas, as mulheres do Oeste Catarinense organizam-se desde o campo, a produção de alimentos saudáveis, na luta pela terra livre, pela dignidade da operária, pela construção do feminismo, da equanimidade de direitos, pela libertação que supera todas as formas de opressão.

Essas são as mulheres da nossa história. Sua causa? A soberania dos povos, a alimentação sem veneno, a vida acima do capital e do lucro. Mulheres do Oeste de sangue, da Pátria grandiosa e sem fronteiras para as que lutam, ocupam os latifúndios das terras roubadas da classe trabalhadora, espalham sementes de um outro mundo possível, fazem a revolução nos chãos de fábricas, enfrentam seus patrões dentro das empresas Oestinas e vivem na constante sede de justiça. Muitas não chamam a isso tudo de Feminismo, não falam em Socialismo, mas de minuto a minuto, expressam a sabedoria necessária para essas construções libertadoras. Essas mulheres fazem parte do contexto da Pátria grande e a construção do feminismo delas e de seus companheiros está na luta de classes, no cabo da enxada, no frigorífico, no dia a dia, na sobrevivência, no vestir a roupa, no carinho que elas tem, no amor que elas transmitem, na beleza que transcende a sua alma de mulheres da vida.

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Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

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