Cantada de rua, ser seguida por um estranho até em casa, encoxada no ônibus… A mulher que precisa se locomover a pé ou através de transporte público sabe que o espaço urbano pode ser extremamente hostil para nós mulheres. A pesquisa levantada pela Think Olga para a campanha Chega de Fiufiu indiciou que 99,6% das mulheres já foi assediada na rua e 81% já deixou de fazer algo por medo do assédio. Cansadas das abordagens indesejadas e inspiradas na ideia de que a solidariedade entre mulheres é revolucionária, as pernambucanas Manuela Galindo e Joana Pires formaram o coletivo Deixa Ela Em Paz com o objetivo de criar estratégias de enfrentamento a essa hostilidade, o que elas chamam de Circuito de Enfrentamento Urbano, ou CEU para mulheres. Trata-se de uma série de intervenções urbanas, oficinas e workshops nos quais as amigas trazem reflexões feministas a um público amplo de mulheres enquanto ocupam a cidade e conversam sobre como transformar essa realidade.
“Partimos da ideia de que chama CEU porque o espaço urbano é bastante hostil às mulheres, há pesquisas na Geografia que mostram que as mulheres criam estratégias de enfrentamento, que envolve mudar de roupa e de calçada quando ela se sente ameaçada, a construir uma rota que tenha iluminação ou uma rua que tenha festas por causa do público mais intenso na frente… Então o CEU é na verdade a efetivação da necessidade de poder dialogar e compartilhar com mulheres a perspectiva do feminismo”, diz Joana, uma das criadoras do coletivo.
Apesar da origem das duas ser Recife, a primeira ação do coletivo foi colar lambe-lambes nos muros do Rio de Janeiro com a frase “Deixa Ela Em Paz” em 2015. Ao mesmo tempo, elas criaram redes sociais com a frase para divulgar as fotos da intervenção e reunir um grupo de mulheres para compartilhar histórias e dialogar sobre outras iniciativas possíveis, o que virou um grupo de discussão mantido até hoje e a partir do qual surgiu o CEU. Posteriormente elas incorporaram outras técnicas – como stencil, stickers, carimbos, panfletos e ensaios fotográficos às ações do Deixa Ela Em Paz – e espalharam as colagens em várias cidades do Brasil e do exterior. Além do lambe-lambe, estão entre as intervenções escrever um mural com a frase “Eu não me calo porque…” e deixar linhas para as mulheres completarem com o que quiserem; a distribuição de panfletos e apitos para falar sobre assédio de rua, como combatê-lo e como ajudar outras mulheres; oficinas de empoderamento com mulheres jovens; rodas de conversas com estudantes em escolas no Recife e o ativismo digital em redes sociais.
“A ideia de dialogar com essas mulheres é ativar, despertar em grupos de mulheres essa possibilidade de empoderamento, de repensar a cidade e entendê-la como um espaço que precisa ser ocupado de verdade para sermos reconhecidas como público-alvo e prioritário porque uma cidade que é mais justa para mulheres é mais justa para todos”, afirma Joana.
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Fonte: Think Olga.