Muitos votos do fascismo no primeiro turno podem vir para a democracia

Por Jair de Souza.
O candidato fascista teve uma votação surpreendentemente expressiva no primeiro turno. Como isto pôde ser possível se boa parte de seus eleitores não sabem sequer quais são suas principais propostas de governo?
Bem, ao que parece, a estratégia deste candidato é essencialmente esta: expor o mínimo possível o que pretende efetivamente fazer no caso de ser eleito e, por outro lado, centrar-se em questões de falso moralismo, inventando ameaças feitas por ninguém (do tipo “kit gay” nas escolas) e, assim, inflamar os preconceitos latentes na mente de nosso povo e, desta maneira, deixar de esclarecer quais as propostas concretas que ele tem para tornar melhor a vida do povo trabalhador.
Se perguntarmos a qualquer uma das pessoas que acabou de  votar nele, é quase certeza que a mesma não saberá dizer o que ele pretende fazer com relação à educação pública (com exceção da proibição do uso do já citado kit gay, que ninguém nunca viu em nenhuma escola, e que ninguém jamais propôs distribuir); sobre o atendimento médico público; sobre o congelamento de recursos para gastos públicos por 20 anos, o que deve nos levar a uma situação de calamidade no atendimento das necessidades de nossa população; sobre a questão da moradia popular; sobre os direitos e garantias trabalhistas que foram recentemente removidos da CLT por Temer, com o apoio do deputado e candidato fascista e seu grupo de simpatizantes; sobre a venda da Embraer à Boeing estadunidense e a transferência de seus setores estratégicos da produção para os Estados Unidos; sobre a entrega das reservas do pré-sal a multinacionais estrangeiras e o desmonte da Petrobrás; etc.
Será que estas são questões secundárias que não precisam ser tratadas em uma campanha eleitoral, ao passo que o tal kit gay, sim, é o prioritário?
Entendo que, se deixarmos por conta do candidato fascista e os coordenadores de sua campanha, tais questões não vão ser abordadas em absoluto, a não ser por seu mentor econômico em reuniões privadas com grandes empresários em busca de aumentar seus lucros com o mínimo de investimentos.
Portanto, vai ser o candidato das forças democráticas quem vai ter de colocar estas questões em pauta de um modo tal que os fascistas não consigam se omitir. Para isto, além do espaço da propaganda gratuita no rádio e televisão, vai ser preciso invadir também a seara de atuação preferida do fascismo: whatsapp, facebook; twitter e outras redes sociais.
Além disto, como sabemos que há muitos empresários exploradores da fé fazendo uso do nome de Cristo para induzir os fieis a votar no candidato fascista, também vai ser necessário tocar neste assunto. Qual é o significado de Jesus Cristo para nosso povo? Será que para Jesus Cristo o importante é que cada um aplique para si a famosa “lei de Gerson” (ou seja, o que vale é que eu me dê bem, os outros que se virem)?
Certamente, há bispos, reverendos e charlatões de todo tipo apregoando que Jesus Cristo abençoa os mais ricos, o que justificaria a existência de gente rica e muitos outros pobres. Mas, em seu íntimo, a maioria dos cristãos entende que Jesus Cristo dedicou toda sua vida em favor dos mais humildes, nunca aos poderosos. Ele passou a vida entre carpinteiros, pescadores, camponeses e outras gentes humildes. Nunca o vimos alabando reis, príncipes, a alta nobreza, ou outros detentores de fortuna.
Ninguém saberia citar uma passagem sequer da vida de Jesus Cristo na qual ele toma posição em contra dos pobres. Mas, os episódios em que ele se engaja claramente a favor dos menos privilegiados são abundantes. Quem não se recorda da passagem em que ele expulsa do Templo aqueles mercadores que queriam fazer fortuna explorando a fé do povo? E quando ele diz que é “mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus”? Ou ainda, quando um rico lhe pergunta o que fazer para ser admitido no reino do Senhor e ele manda que o mesmo venda todas suas propriedades e distribua os recursos obtidos com os mais pobres.
Pois é, podemos então perguntar aos eleitores religiosos do candidato fascista se o mesmo está atinado com a vida e as propostas práticas de Jesus Cristo. Felizmente, existem também muitos pastores que pregam o cristianismo inspirados nos ensinamentos e no legado da vida de Jesus. A eles devemos pedir apoio neste momento.
Na votação decisiva do segundo turno, nossa preocupação não deveria se limitar a trazer para o campo do candidato da democracia apenas os eleitores que votaram nos candidatos que não conseguiram passar à fase seguinte. Devemos também nos empenhar para recuperar para o campo da democracia, da paz, da fraternidade e da justiça social uma boa parcela daqueles que optaram pelo candidato fascista no primeiro turno por desconhecimento de suas propostas.
Precisamos confiar na sabedoria de nosso povo. Quando ele tem a possibilidade de conhecer quais são os fatores que estão em jogo, sua tendência é escolher aquilo que vai lhe trazer uma vida melhor e mais digna.

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