Por Elaine Tavares.
A posse da terra revela a expressão máxima da desigualdade social em um país. No mundo capitalista, a terra é considerada um bem vendável, acumulada para a exploração com o objetivo de gerar lucro, tão somente. Considerando o mundo rural a desigualdade é gritante. Para se ter uma ideia as grandes propriedades, ou seja, os latifúndios, representam apenas 0,91% das propriedades, embora ocupem 45% da área, com 130 mil imóveis. Conformam quase 250 milhões de hectares.
Já as pequenas e médias propriedades, com área inferior a dez hectares e que representam 47% de todas as propriedades rurais ocupam apenas 2,3% da terra produtiva. Os números não mentem: há terra demais nas mãos de pouquíssima gente.
Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) essa concentração de terra na mão do latifúndio teve um aumento significativo entre os anos de 2010 e 2014. Naquele período mais de seis milhões de hectares passaram para a posse dos grandes proprietários, mostrando o avanço do agronegócio sobre os pequenos produtores, que foram perdendo suas terras por dívidas ou pressão dos grandes. Isso sem contar o ataque sistemático sobre as terras indígenas, que vão sendo comidas devagar.
Não é sem razão que o campo esteja sendo sempre em ebulição, pois a concentração de terra vai gerando um exército de gente sem trabalho e sem moradia. Ao venderem ou perderem seus imóveis, os agricultores acabam migrando para as grandes cidades, engordando o bolsão de miséria.
Resta a escravidão do desemprego e da fome, ou a resistência. Assim, há os que decidem lutar para mudar esse estado de coisas. É o caso daquelas famílias que se concentram em movimentos organizados como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e empreendem a luta para garantir terra e trabalho. Nos últimos anos, apesar do aumento da concentração de terra, o movimento realizou apenas ocupações pontuais. Mas, agora, com o acirramento da crise econômica que, como sempre só atinge os de baixo, a luta pela terra voltou a se acirrar.
O estado de Santa Catarina, que está praticamente tomado pelo pinus, já começa a se mexer. Nesse dia 10 de abril, duas novas ocupações de terra aconteceram nas cidades Fraiburgo e Garuva, envolvendo cerca de 800 famílias.
Por volta da meia noite cerca de 200 famílias ocuparam uma área, que está sendo investigada por irregularidaes e que pertence a grande empresa Perdigão (agora BRF), no município de Fraiburgo. Essas famílias que estão no Acampamento Iratã Rodrigues já lutam por essa área há tempo e esperam pela conclusão do processo relativamente a ocupação que realizaram em abril de 2016, no município de Rio das Antas. Essa ocupação, de 2016, foi na Fazenda Baia II, que também estava em nome da Perdigão (BRF), tendo essa empresa uma dívida de mais 146 milhões com a União, relativamente à area.
A outra fazenda ocupada foi a Ouro Verde, em Garuva, com cerca de 600 famílias organizadas. Apesar da chuva forte, as famílias não arredaram pé e já deram um nome para a ocupação: Acampamento Egídio Brunetto, uma das lideranças mais importantes do MST catarinese, que já encantou.
Essa fazenda Ouro Verde está impordutiva desde há 10 anos, apenas aguardando valorização para especulação imobiliária. Segundo o MST ele provavelmente foi leiloada em função de dívidas com o Banco do Brasil, e conforme relato dos vizinhos, os agricultores que viviam ali foram expulsos pelo fazendeiro ou empresários que arrematou a área. Como a terra tem de cumprir sua função social, não é possível que tanto espaço fique sem produção. Assim, foi ocupada.
Agora, esses novos focos de luta pela terra devem acirrar a batalha para que o Incra fiscalize pelo menos 15 novas áreas para assentamento. Segundo os agricultores o desemprego, o alto custo de vida, a violência nas cidades, o risco da Reforma da Previdência e as mudanças nas leis trabalhistas fazem com que as famílias sigam ainda mais firmes na luta.
A terra é para produzir comida, não para especular. Esse é o grito!
Fonte: IELA.