Por Geanini Hackbardt.
Famílias do Vale do Rio do Doce (MG) se reuniram para implantar um sistema agroflorestal, no Assentamento Oziel Alves
Na quarta-feira, 02 de novembro, famílias do Vale do Rio do Doce (MG) se reuniram para implantar um sistema agroflorestal, no Assentamento Oziel Alves, Governador Valares. Este foi o primeiro plantio do projeto “Recuperando Áreas Degradadas em Assentamentos da Reforma Agrária” (RADAR), que pretende devolver à natureza 30 milhões de mudas de árvores nativas até 2018.
Para começar, viveiros com capacidade de produzir 20 mil mudas cada um, estão em construção no Assentamento Liberdade, vizinho ao local, e em outras 3 regiões: Sul, Norte e Triângulo Mineiro. A intenção do movimento é expandir para mais 5 regiões.
“Estamos apenas no começo do projeto, mas em pouco tempo poderemos ver o resultado em áreas que produzirão muita água e alimentos, através de Sistemas Agroflorestais”, apontou Tiago Mendes, Coordenador do Projeto. “Esperamos também a ampliação dos recursos projeto. Na versão original prevemos a atuação em 9 regiões do Estado”, lembrou o coordenador.
Saúde
O mutirão foi organizado para recuperar o entorno do local onde está em construção a Casa de Saúde. Ali, terapeutas formadas pelo Setor de Saúde atenderão integrantes do movimento e visitantes, com a aplicação gratuita de técnicas alternativas como reiki, radiestesia, florais, homeopatia, entre outras.
No entanto, foi preciso cuidar da terra primeiro, como explica Marlene Lemes da Rocha, da Direção do Setor de Saúde. “Quando as coisas não acontecem bem no local é porque tem alguma energia do contrário impregnada que deve ser equilibrada. A gente consegue fazer isso através do pêndulo, descobrindo os chamados pontos deletérios e aí trata de harmonizar. Foi o que fizemos aqui.”, explicou a terapeuta.
O Assentamento Oziel Alves, antiga fazenda Ministério, foi palco da luta pela terra desde os anos 50, quando o sindicato dos trabalhadores rurais da região se mobilizou para incluir a área nas propostas de Reforma Agrária anunciadas pelo então presidente João Goulart.
A desapropriação foi interrompida com a derrubada do presidente e as terras tomadas pelos militares. Por isso, o processo de harmonização foi necessário, contou a dirigente do MST no Vale do Rio Doce, Teresinha Sabino.
“Esse momento é muito importante. Além de cuidar do lugar que foi regado com sangue dos mortos de 64, estamos tirando o dia para cuidar da nossa mãe, terra, e cuidar da saúde dos nossos companheiros e companheiras”, ressalta Teresinha. Além da harmonização, os trabalhadores também fizeram canteiros, que foram cobertos com folhas secas, e semearam mais de 30 espécies de plantas para recuperar a biodiversidade do solo.
Projeto
O projeto RADAR foi viabilizado pela parceira do MST com a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMIG) e já foi lançado regionalmente no Sul de Minas, durante o Festival de Cultura Campesina. Na ocasião, cerca de 50 pessoas participaram do Seminário.
Durante a apresentação, Bruno Diogo, Direção Estadual do Setor de Produção, explicou que o projeto visará o reflorestamento de margens de rios, nascentes e a formação de corredores que permitam a circulação de animais, os chamados corredores ecológicos. “Pretendemos colocar na pauta do dia que, para os camponeses, a produção de alimentos não se dissocia da preservação ambiental. Na reforma agrária, homem e natureza caminham juntos”.
Ele ainda ressaltou o papel que as áreas cumprem na preservação da água. “Os assentamentos são amplos bolsões verdes. É só analisar as terras antes e depois de serem ocupadas. Por isso, também somos grandes produtores de água e queremos ampliar esta característica. Isso é central diante da crise hídrica que se passa na região sudeste”, apontou Bruno.
De acordo com os técnicos do projeto, nos próximos meses serão produzidas milhares de mudas de espécies nativas e frutíferas para distribuição em Guapé e Campo do Meio – onde se localizam assentamentos e acampamentos do MST – e outros municípios vizinhos. Já no Vale do Rio Doce as mudas serão distribuídas priorizando também locais atingidos pelo crime ambiental cometido pela Vale-Samarco.
Fonte: MST.