Ao longo do sábado (27), cerca de 500 famílias em situação de vulnerabilidade em Ponta Grossa receberam cestas com alimentos agroecológicos doados por camponeses e camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Arroz, feijão, batata, mandioca, milho verde, melancia, limão, legumes, verduras e frutas diversas estavam entre os itens que compuseram os kits. Cada sacola também recebeu um pão caseiro, produzido pelos coletivos de mulheres das comunidades da Reforma Agrária.
Ao todo, 6 toneladas de alimentos foram distribuídas. As entregas ocorreram em 7 bairros, a famílias cadastradas previamente, para evitar aglomerações. A ação é fruto da aliança entre cinco comunidades do MST – assentamento Contestado, da Lapa; os acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro; e o acampamento Reduto de Caraguatá, do município de Paula Freitas; e do acampamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa. Também contribuíram com a iniciativas entidades e movimentos urbanos.
Entre as produtoras agroecológicas que partilharam alimentos está Vanessa Batista, de 26 anos. Ela mora na comunidade Emiliano Zapata e garante alimentação saudável e renda a partir de uma horta diversificada a poucos metros de casa. Toda semana a camponesa comercializa alimentos por meio da cooperativa da comunidade e de uma feira na cidade.
Desta mesma horta é que Vanessa colheu cheiro verde, beterraba e couve orgânicas para doar. “Eu já morei na cidade, já morei de aluguel, sei como as coisas são difíceis e esse ano foi pior pra todo mundo”, relata a jovem, que mudou-se para o acampamento há 10 anos.
“A vida na roça é muito melhor que na cidade. Saber que eu posso ir no quintal e pegar uma beterraba, alguma coisa saudável sem nada de veneno pra dar pro meu bebê é uma das melhores coisas. Tenho certeza que se eu morasse na cidade não faria isso”, conta Vanessa, se referindo à filha Mariana, de 1 ano.
Thais Vaz é presidente da associação de moradores do Recanto Verde, uma das comunidades atendidas pela ação de solidariedade, e participou da montagem das cestas na comunidade Emiliano Zapata, nesta sexta-feira. Ela relata que muitos moradores do seu bairro perderam o emprego desde o início da pandemia.
“Essa semana um grande número de famílias foi pedir ajuda e a gente já não tinha mais recurso pra ajudar. A gente sempre encaminhava pro CRAS [Centros de Referência da Assistência Social], mas eles também estão com dificuldade de ajudar porque aumentou muito a procura”, contou a liderança comunitária.
Joabe Mendes de Oliveira, da direção estadual do MST no Paraná, destacou que os alimentos são resultados do cultivo orgânico, livre de agrotóxicos. Ressaltou ainda o caráter solidário das doações no esforço de amenizar a fome durante a pandemia. “As cestas são frutos do nosso trabalho, dos trabalhadores do campo para trabalhadores da cidade”.
Para Adriana Prestes, moradora da comunidade Emiliano Zapata, é uma satisfação participar do trabalho coletivo, com as comunidades envolvidas, além do apoio de todas as entidades parceiras do MST. “Uma emoção muito grande ver todo esse trabalho coletivo, poder entregar os alimentos a várias famílias. Uma honra”.
Além das comunidades do MST, participaram da ação o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato); a Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR); a Frente Brasil Popular; Pastorais da Igreja Católica; Cáritas; Sindicato dos Docentes da UEPG (SindUEPG); Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo); Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Carne; Intersindical; Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); Frente Ampla Democrática; Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Estado do Paraná (Sindprevs); além de amigos e parceiros do MST.
Alimentos foram abençoados pelo Bispo de Ponta Grossa
Dom Sérgio Arthur Braschi, bispo da Diocese de Ponta Grossa, realizou nesta sexta-feira (26) a bênção dos alimentos na sede do pré-assentamento Emiliano Zapata, no município de Ponta Grossa, onde foram preparadas as cestas de alimentos cultivados nas comunidades do MST na região.
Dom Sérgio destacou os esforços dos trabalhadores rurais, entre homens e mulheres, na colheita dos alimentos nas diversas comunidades. “Pedimos a bênção de Deus para todos esses locais de trabalho, onde estão sendo feita a colheita desses alimentos e a produção de pães”.
O bispo destacou ainda a ação de solidariedade durante a crise sanitária da Covid-19: “Um gesto de partilha durante a pandemia. Por trás desse trabalho, tem as mãos calejadas no cultivo dos alimentos que vão chegar à mesa dos pobres. Os pobres repartindo com os pobres. Eu quero agradecer ao MST e a todos os trabalhadores e trabalhadoras Sem terra aqui dos acampamentos e assentamento que estão dando uma aula de solidariedade a partir dessa atitude”.
Solidariedade permanente
A atividade vem sendo preparada desde o final de 2020, com o plantio de lavouras coletivas e aumento da produção por parte das famílias camponesas. O feijão orgânico, por exemplo, foi plantado em setembro e colhido em mutirão no mês de janeiro.
A ação faz parte das ações de solidariedade realizadas pelo MST desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020. Somente no Paraná, com a ação deste sábado, as famílias Sem Terra chegaram a 516 toneladas de alimentos doados. Com a ação Marmitas da Terra, organizada pelo Movimento em Curitiba, cerca de 42 mil refeições também já foram distribuídas desde maio de 2020.