Por Agatha Azevedo.
Nesta sexta-feira, 5 de abril, o MST irá entregar ao Ministério Público um laudo técnico comprovando os danos nas áreas do movimento na região metropolitana de Belo Horizonte, provocados pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho.
O laudo, realizado por técnicos agrônomos com o respaldo da EMATER, aponta para a relação das famílias com o Rio Paraopeba e o território ribeirinho. A ação faz parte do processo de reivindicação dos direitos das famílias que perderam a fonte de água para a sua produção, além de terem sofrido impactos sociais, psicológicos, na saúde, entre outros.
O Movimento calcula que milhares de famílias tenham sido atingidas. Nos dois acampamentos em São Joaquim de Bicas, o Zequinha e o Pátria Livre, cerca de 600 famílias foram cadastradas para receber a indenização emergencial. Soma-se à estas famílias os moradoras do Assentamento 2 de julho, localizado em Betim. Ao todo, são 22 áreas de acampamentos e assentamentos do MST foram atingidas pelas lamas da Vale, em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O MST acredita que o motivo principal da inoperância da empresa em relação à prevenção e aos cuidados com as vidas ao redor das barragens foi a privatização. Considerado um dos piores negócios da história, a Vale foi entregue por apenas 3,3 bilhões de reais, quando valia aproximadamente 10 bilhões.
Para a direção do movimento, a política que coloca o lucro acima da vida, dos rios e de tudo é típica do livre mercado. “A Vale é criminosa porque protegeu o lucro, não respeitou a lei e fez a opção de matar as pessoas e matar o rio, e é por isso que a Vale tem que pagar e fazer todas as reparações possíveis em função dos dois crimes que cometeu.” Além disso, o estado de Minas Gerais deixa de arrecadar 1 bilhão de reais por ano com a isenção dos impostos da mineração.
Em conjunto com a Frente Brasil Popular, o Movimento quer propor outro modelo de mineração, assim como já o faz em relação à agricultura. Para isso, é necessário o controle do Estado e a fiscalização sobre toda extração, a taxação justa das riquezas extraídas e exportadas e o retorno em políticas públicas de compensação para os territórios mineiros.
“Para nós do MST, o que mais se aproximaria de uma reparação do crime cometido pela Vale é ela deixar de ser privada; retribuir seus lucros ao estado brasileiro e ao povo. A privatização, além de ter sido um crime, gerou crimes. Esperamos que isso também sirva de lição.”
Saúde em risco
Os Sem Terra da região metropolitana já sentem os efeitos nocivos do rompimento da barragem de Brumadinho na pele. Dezenas de casos de dengue foram registrados, enquanto crianças e adultos já começaram a ter reação alérgica por conta da poluição gerada pelo envenenamento do rio. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estes padrões são os mesmos de quando a barragem de fundão, em Mariana, se rompeu, e tem relação direta com o crime da Vale.
O MST reforça a importância da unidade entre campo e cidade para garantia dos direitos da população. Atualmente são mais de 300 mortos, um rio morto, sem contar o crime em Mariana. A atividade desta sexta exige cadeia para os responsáveis por este crime, uma vez que MST segue organizado e mobilizado, exigindo os direitos dos trabalhadores em todas as manifestações públicas, ressaltando a disposição de fazer a luta direta contra a situação vergonhosa que tem acontecido em Minas Gerais.